O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iniciou pelo Brasil a sua nova carreira de palestrante internacional. Como todo ex-presidente de relativo sucesso e certo apelo para públicos corporativos, como Bill Clinton, Tony Blair, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, Obama decidiu ganhar a vida honestamente vendendo palestras e arrecadando recursos para seu instituto – nos Estados Unidos, essa atividade ainda não foi criminalizada.
Em São Paulo, Obama repetiu suas platitudes de sempre. Disse
que sistemas previdenciários precisam ser sólidos, que o mundo precisa de mais
tolerância, que o futuro pertence às novas lideranças e que só progridem
aqueles países que investem em educação. Um blablablá óbvio, mas que seduz
engravatados dispostos a tirar suas selfies num evento com um popstar da
política internacional.
No entanto, como Obama escolheu o Brasil para recolher seus
primeiros dólares, é importante recordar o que foi a política externa
norte-americana para o País em sua gestão. Em 2013, o site Wikileaks, de Julian
Assange, e o agente Edward Snowden, da NSA, revelaram que os Estados Unidos
espionaram vários líderes internacionais, como a primeira-ministra alemã Angela
Merkel e a presidente Dilma Rousseff. No Brasil, o foco central da
bisbilhotagem era a Petrobras e o pré-sal – um fato óbvio diante da obsessão
norte-americana por garantir sua segurança energética, ainda que isso envolva
guerras, invasões e apoios a golpes de estado.
Obama se viu forçado a explicar a natureza dessa espionagem
num encontro de cúpula do G20 em São Petersburgo, na Rússia, em 2013, mas suas
justificativas não foram convincentes e as relações Brasil-Estados Unidos
permaneceram congeladas até 2015, quando ele recebeu Dilma nos Estados Unidos.
Nesse período, no entanto, o golpe parlamentar de 2016 foi sendo arquitetado –
ao que tudo indica, com apoio informal norte-americano. Qual foi a primeira
mudança relevante no Brasil pós-golpe? O modelo de exploração do petróleo, que
deixou de ser o de partilha, que garantiria mais recursos à União, e passou a
ser o de concessões.
No primeiro leilão, realizado em setembro, a maior
compradora foi a norte-americana Exxon. Nos próximos, virão a Chevron, a Shell
e outras multinacionais. Com a partilha, previa-se que os recursos do pré-sal
seriam destinados prioritariamente à educação num governo cujo lema era
"Pátria Educadora". Agora, no Brasil da "Ordem e
Progresso", os gastos públicos foram congelados por vinte anos e a educação
será uma das primeiras vítimas. A UERJ praticamente paralisou suas atividades,
o reitor da UFSC se matou, após ser vítima de um justiçamento midiático, e, em
breve, será proposto o fim da gratuidade nas universidades públicas. Com a
educação sucateada no Brasil, a elite, cada vez mais, envia seus filhos para
universidades internacionais – o que reforça a lógica da dominação cultural.
Dizer que o futuro das nações depende de investimentos em
educação é fácil, Obama. Fazer, depende de governos nacionalistas e capazes de
se proteger contra dominações imperiais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário