quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Duas passagens que tive com Dom Paulo Evaristo Arns


Reprodução/Youtube


Não vou repetir dados e informações biográficas sobre dom  Paulo Evaristo Arns, que foram divulgadas à exaustão hoje (ontem).

Quero apenas contar duas passagens de minha vida em que tive a honra de, mesmo que rapidamente, trocar algumas palavras com esse grande homem.

Uma foi em 2000, no dia da eleição que levou Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo. Chegávamos à PUC-SP, para votar. Quando passávamos pela entrada da universidade, à rua Monte Alegre, um carro parou e dele desceu dom Paulo Evaristo Arns. Surpresos com a feliz coincidência (mas dizem que coincidências não existem) dirigimo-nos a ele, dizendo algo como "veio votar, Dom Paulo?", só para ter algo o que ouvir dele.

Com o olhar carismático e expressivo, e o falar calmo característico dos homens que têm todas as coisas para dizer, e, sabedores disso, sempre falam sem pressa, ele fixou os olhos nos olhos da Carmem e disse: "chegou a hora das mulheres", com um sorriso convicto e alegre.

A outra ocasião foi ainda antes, cerca de um ano depois da eleição de Luiza Erundina (1988). Era um evento no Tuca, o teatro da PUC de tantas histórias, e eu, jornalista ainda muito jovem, me candidatei a fazer uma pergunta ao arcebispo. Lembro que, diante daquela sumidade que tanto e sempre respeitei, ao dirigir-me para pegar o microfone eu tremia. A insegurança de jovem  jornalista cresceu enormemente naquele momento, naquela situação. É que a gente se sente pequeno às vezes, quando está diante de alguém espiritualmente poderoso como ele.

Minha pergunta foi o que ele podia comentar sobre o papel decisivo da Igreja, a qual ele comandava em São Paulo como arcebispo, na eleição de Erundina. (No dia da eleição, a Folha de S. Paulo dera uma matéria de página inteira, sob o título: "Igreja libera fiéis para voto em Erundina" -- cito o título de memória, que pode ser diferente em algum detalhe, mas era esse essencialmente. Não há dúvida de que Dom Paulo foi decisivo naquela eleição.)

Hoje, 27 anos depois, não me lembro nem mesmo qual foi exatamente a resposta de Dom Paulo. Mas foi uma resposta política, como se dissesse que o que tinha de ser feito já fora feito.

Enfim, dom Paulo Evaristo Arns, aos 95 anos, terminou sua missão. Uma grande missão, cumprida com honra, serenidade e disposição para ajudar a melhorar o mundo. 

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