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A perda da Copa América pela Argentina no último domingo,
mas principalmente a derrota de Messi, o herói, deu margem a todo tipo de dramatizações.
Algumas sinceras, outras demagogas e midiáticas; umas emocionadas, outras calculistas
(em busca de audiência), outras ainda simplesmente tolas.
Faço este breve comentário com tranquilidade, pois estou
muito longe de alimentar em mim mesmo a rivalidade globeleza e falsa entre
Brasil e Argentina, que embala o canal de televisão patrocinador do golpe no
Brasil.
Adoro o futebol argentino, que, para mim, junto com o outrora
(e hoje degradado e horrível) futebol brasileiro e o italiano, sempre formaram
a tríade do melhor futebol do mundo -- como tradição e escola, e não apenas como
fruto de fenômenos episódicos, do tipo Hungria de 1954 e Holanda de 1974.
Mas, mais do que de seu futebol, adoro a Argentina, país
onde é sempre um prazer estar, nem que seja para simplesmente caminhar pela
inigualável avenida de Mayo. Julio Cortázar, embora morasse em Paris, certa vez
disse que caminhar por Buenos Aires era o maior ou um dos maiores prazeres de
sua vida. Conheço vários argentinos e argentinas agradabilíssimos.
Mas voltemos a Messi. Até mesmo eu fiquei um pouco condoído
pela dor do craque com a perda do pênalti que custou a derrota para o Chile. Porque a derrota é de fato triste. Mas a pieguice que
embalou muitos e o oportunismo mancheteiro que motivou outros, sinceramente, é
da dar tédio, ou raiva, dependendo do momento.
Para mim, "A tristeza de Messi é a tristeza do futebol",
como escreveu Mário Magalhães em seu blog no Uol, francamente, superou tudo em
tolice, inclusive o sentimentalismo piegas dos amigos ou amigas que se
emocionaram a não mais poder com a imagem de uma mulher enxugando as lágrimas de Messi.
Só para ficar no futebol: e a
alegria do Chile, construída com talento e aplicação, um time taticamente
impressionante, a seleção de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, não conta? Conta só
o que dá ibope? O triunfo chileno e "tudo isso é importante, mas a
tristeza do Messi é mais", escreveu o blogueiro. Ora, por quê?
Por acaso, quando Roberto Baggio, um dos maiores craques do
futebol italiano, e portanto do futebol mundial, em 1994, perdeu o pênalti contra
o Brasil não foi "a tristeza do futebol" também, só porque o vencedor
foi a seleção pragmática e covarde de Carlos Alberto Parreira venerada por
Galvão Bueno?
Ou, voltando um pouco mais, quando Zico, um dos maiores que
vi jogar (para mim mais jogador do que Messi) perdeu o pênalti contra a França
em 1986, não foi "a tristeza do futebol" também, só porque perdemos,
e então o sentimento tinha de ser outro que não o da pena? "A decepção da
seleção de Zico", pode-se achar facilmente hoje numa busca no Google sobre
o tema.
Messi perdeu. O esporte é assim. Perde-se. Até Pelé perdeu. Aliás,
não foi nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Messi perdeu um
título junto com a Argentina. Messi, um dos maiores craques do século 21, nunca ganhou nada por seu país, onde,
diga-se, nunca jogou profissionalmente, já que saiu dos infantis do Newell's
Old Boys aos 13 anos para alçar a glória no Barcelona.
A mídia precisa de heróis, para vender manchetes. Mas Messi
não chega ao maravilhoso pé esquerdo de Maradona, que ganhou sozinho a Copa do
Mundo de 1986 para seu país, num dos momentos épicos e inigualáveis da história
do futebol.
Messi hoje é um herói, há anos é o queridinho da mídia, esta
semana virou o símbolo da tristeza e vende muitas manchetes. Por isso mesmo,
porque o mundo precisa de manchetes e de quem as compre, virão outros.
Podem ficar tranquilos. O craque nascido em Rosario que
perdeu o pênalti no domingo continuará feliz lá na Catalunha. E os chilenos,
outrora menosprezados por seus próprios compatriotas, estão muito felizes com o
bicampeonato. É muito justo.