sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Contra impeachment, Rede avança para ocupar espaço à esquerda


Geraldo Magela/Agência Senado


A informação de que a Rede Sustentabilidade, o partido de Marina Silva, se posiciona contra o pedido de impeachment de Dilma é uma notícia importante. Mas, mais do que a notícia em si, ela aponta para algo mais: é mais um fato que vai consolidando a estratégia da Rede, desde já, de procurar ocupar um espaço à esquerda do espectro político e conquistar o eleitorado que hoje  se vê mais ou menos órfão, com "a maior crise da história" do PT, como disse o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI) e liderança orgânica do partido de Lula, João Felício, na semana passada.

Crise que decorre tanto do cerco e bombardeio ininterrupto que o PT tem sofrido por parte do Ministério Público, do Judiciário e da mídia desde 2005, quanto do desgaste natural a qualquer partido ou grupo que governa há 12 anos (vide Argentina, onde o kirchnerismo, depois de 12 anos, acabou perdendo a eleição para a direita de Maurício Macri).

Já citei anteriormente, mas volto a mencionar a avaliação da professora Maria do Socorro Sousa Braga, em matéria que fiz para a RBA quando a Rede conseguiu seu registro oficial no TSE: para ela, a estratégia da Rede é justamente tentar ocupar um espaço à esquerda, que é um terreno de disputa não apenas pela crise petista, mas também pela própria crise de representação e a rejeição de grande parte da população aos partidos conhecidos. “Existe um espaço a ocupar à esquerda. Esse espaço, PSTU e PSOL não conseguiram ocupar, não conseguiram a envergadura de um PT quando o partido de Lula começou a crescer nos anos 1990”, disse a professora na ocasião.

ida do ex-petista Alessandro Molon para  Rede, no final de setembro, foi outro importante indicativo de que o partido de Marina está, sim, visivelmente empenhado em se construir e viabilizar como alternativa num campo que enxerga como bastante fértil para ser semeado daqui a 2018. Mas a Rede vai obviamente tentar avançar também nos setores da classe média, da esquerda à centro-direita, pois se tem uma coisa que Marina não é, é boba. O discurso da sustentabilidade (que atrai vastos setores do espectro político) é sempre e cada vez mais importante no embate político, o que a tragédia de Mariana só reforça.

Marina tem ainda um "capital" eleitoral muito grande, que herda de 2010 e 2014. Muita coisa vai acontecer daqui até 2018. Mas parece certo que a Rede vai ser uma das forças de 2018. O que, politicamente, é interessante, porque será certamente uma força que pode em parte neutralizar, racionalizando o processo e o discurso, o crescimento da direita no país.

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Atualizado às 21:52 - Menos de um dia depois de se posicionar contra o impeachment, Marina Silva corrige sua posição (como fez na campanha eleitoral, quando se rendeu à pressão do pastor Silas Malafaia). Disse ela hoje: “Nossa atitude é de que de fato o Brasil seja passado a limpo. E se de fato os recursos da Petrobras foram usados pela campanha da presidente e do vice-presidente, o correto é que ambos os indicados possam ter o processo (eleitoral de 2014) anulado, como está lá no pedido que foi feito pelo PSDB”, afirmou, segundo o blog do Fernando Rodrigues. O problema de Marina Silva é justamente esse: suas posições não se sustentam. Ela cede a qualquer pressão.

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