quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Cadê os ônibus, Jilmar Tatto?


Apesar das medidas espetaculosas do secretário Municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, e do próprio prefeito ter resolvido mostrar que, como cidadão, deve andar de ônibus, muitas coisas estão erradas na cidade de São Paulo na área de transportes, quase 14 meses após Fernando Haddad assumir a prefeitura.

Clique nas imagens para ampliar
+ de 1h espera PT – Addad Cadê Os Ônibus?
– diz, literalmente, pichação na av. Eiras Garcia, no Jd. Bonfiglioli

As medidas espetaculosas da gestão incluem as faixas de ônibus, reverberadas como solução para o transporte público por todos os setores, dos ligados a Soninha Francine aos ativistas do MPL.

Este humilde blogueiro ou qualquer pessoa de bom senso apoia a necessidade de se priorizar os ônibus em relação aos automóveis. Mas não à maneira de Jilmar Tatto, que Haddad acata talvez sem conhecer a fundo, apesar de o prefeito andar de ônibus como se fosse um Jânio Quadros.

Riscar avenidas com uma faixa branca e dizer que a partir desse momento, por decreto, a cidade vai funcionar assim ou assado não faz com que a cidade funcione. E a política de Jilmar Tatto não está funcionando. Não foi planejada. É improvisada e mal feita. Ele e o prefeito dizem que os ônibus andam agora mais rápido graças às faixas. Mas cadê os ônibus? 

Deixar o carro em casa em fins de semana e esperar ônibus para passear aos sábados e domingos é um exercício que eu convidaria o secretário Jilmar Tatto a fazer.

Moro no Butantã. E aqui no Butantã, da Vila Gomes ao Jardim Bonfiglioli, em dias úteis a fins de semana, os serviços de ônibus da prefeitura pioraram com a gestão Haddad/Jilmar Tatto. É triste, mas até malufistas dizem isso e você fica sem argumento, porque é uma lamentável verdade.

A linha 577-T, que ligava o Jd. Miriam à Vila Gomes, uma linha importante da cidade (e quem conhece sabe do que falo), subitamente desapareceu, como muitas outras na cidade.

Nesta quinta-feira, 27 de fevereiro, ocorre nova manifestação, em frente à estação Butantã do metrô, pela volta do 577-T, o “Azulzinho”, que a prefeitura permitiu ser suprimida graças à política ainda não muito clara de Tatto.



No último dia 20, o secretário se comprometeu a receber comissões de moradores de regiões que tiveram alterações inexplicáveis em linhas de ônibus população. Leia aqui. A ver.

A causa do Butantã eu conheço e apoio. Jilmar Tatto está devendo explicações sobre sua, até agora, pífia gestão.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O fracasso do socialismo de cátedra



Por Wanderley Guilherme dos Santos
(Publicado no site Carta Maior)

Socialistas de cátedra e adeptos da violência não serão capazes de promover impasses institucionais. Faltam-lhes causa reconhecida e apoio da população. Obterão alguns traços eleitorais, talvez. Nem isso, caso a repressão não coopere com eles usando da mesma selvageria. Sem a contribuição da polícia os socialistas de cátedra e mentores da violência só irão figurar nos noticiários sensacionalistas. Fracassarão.

Impasses institucionais são corolários da adesão de grupos sociais dotados de preferências intensas, uns a favor, outros contrários a pautas específicas. A solução de conflitos de tal magnitude se dá por revolução, por golpe de estado ou por negociação. O Brasil passou por alguns impasses cujas soluções variaram.

Em 1930, o conflito intra-oligárquico foi resolvido por uma revolução, isto é,  por um movimento que, no poder, transformou extensamente as instituições do País. Foi com um golpe doméstico consentido que, em 1945, removeu-se uma esquizofrênica ditadura nacional já que vitoriosa em guerra internacional contra as anti-democracias nazista e fascista. Não obstante os tremores de 1954, o suicídio de Getulio Vargas alterou drasticamente a estrutura do jogo, adiando o impasse, finalmente provocado pela renúncia de Janio Quadros: setores militares e civis se opondo à posse de João Goulart contra os legalistas liderados pelo então governador do Rio Grande Sul, Leonel Brizola. O episódio foi parcialmente superado pela negociação em torno da adoção do parlamentarismo para voltar a explodir em 1964, com a polarização da política e a quase paralisia do governo. Desta vez, o resultado foi um golpe de Estado e a implantação da ditadura militar.

Por caminhos distintos, longevas ditaduras – a de Franco, na Espanha, a do Portugal salazarista e a brasileira  - foram superadas por diferentes roteiros democráticos. Pactos formalmente firmados entre as oposições democráticas e o regime franquista obtiveram a aprovação popular (problemas de autonomias regionais à parte) e garantiram a rotação partidária no poder. Em Portugal, um golpe militar propiciou o surgimento da democracia representativa, caso bastante raro, pois, nessa trilha, o rotineiro é a substituição de uma ditadura por outra. Não tem sido diferente o infeliz destino da icônica primavera árabe.

No Brasil, frustrada a alternativa revolucionária a peso de muitas mortes, desaparecimentos e tortura, a negociação tornou-se inevitável. Naturalmente, radicais dentro e fora do Congresso denunciavam as tratativas de saída negociada do autoritarismo como traição, cooptação e outros adornos retóricos. É bem verdade, também, que muitos dos radicais andavam em busca de um general, almirante ou brigadeiro que depusesse a ditadura em vigor e lhes entregasse o poder. Comportamento mais do que farisaico, esplendidamente tolo.

Conforme o negociado e previsto, o desatar dos nós se fez por etapas: fim do AI-5, da censura, decretação de anistia e, em 1982, a primeira eleição realmente competitiva multipartidária, ainda que submetida a legislação coercitiva, para a Câmara dos Deputados. Concorreram cinco partidos: PDS (governista), PDT, PT, PTB e PMDB. Nenhum deles, à exceção do PDS, viu a participação eleitoral como recibo de adesão à boa vontade autoritária, sim como resultado de difícil processo de negociação, ameaças, idas e vindas e, em especial, a recusa de aceitar a proposta governamental (importada) de criação de um partido único com isolamento da minoria radical. Mais tarde vieram a luta pelas eleições diretas para presidente, batalha perdida, a criação da comissão de anistia, recompensando financeiramente dezenas de vítimas da ditadura, e, finalmente, já em condições de normalidade democrática, a Comissão da Verdade.

O tempo do processo não foi tão rápido quanto desejado, a anistia foi menos clara e incisiva quanto deveria e a Comissão da Verdade sofre críticas por seus ritos e absolvições. Mas a crítica só existe porque existe o fato. Nenhum ator responsável deixou de se aproveitar das aberturas que iam surgindo e muitos dos radicais no e fora do Congresso que denunciaram os negociações como colaboracionistas correram a se beneficiar das polpudas compensações financeiras postas a disposição. Mas há quem não tenha reivindicado receber, com juros e correção monetária, dezoito anos de salários não pagos, a partir da aposentadoria decretada na última lista do marechal Castelo Branco, em outubro de 1964.

Apesar dos discursos auto-laudatórios, o restabelecimento da democracia no Brasil não resultou da dramaticidade performática radical. À falta de um processo revolucionário, e recusando a tentação de um “golpe democrático”, foram os moderados que negociaram o desatar do nó autoritário. É esta mesma moderação, e chamo de moderação a tudo que não é convocatória à violência, que impedirá um impasse institucional orquestrado com intimidação e insultos pelos whiteblocs contemporâneos. O governo do Brasil é democrático e assim continuará.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Dilma, finalmente, anuncia que o Estado não pode tolerar agressores e fascistas


Roberto Stuckert Filho/PR

Tenho amigos de "esquerda" (sic) que consideram um absurdo a presidente Dilma Rousseff defender a aplicação de penas rigorosas e, se preciso for, a reforma da legislação para coibir violência e vandalismo em manifestações populares no país. Geralmente movidas por conceitos nebulosos e concepções mancas do que seja a liberdade, essas pessoas – repito, algumas das quais minhas amigas – não conseguem entender que o ovo da serpente está nas praças e ruas, sendo chocado diante dos olhos de todos e complacência do Estado? Liberdade sem limites não é liberdade, é opressão.

Ora, data venia, o que esperam da pessoa que ocupa o cargo de presidente da República? Que se manifeste com tolerância e pusilanimidade diante de depredações de patrimônio público e privado, de agressões físicas a pessoas e de máscaras para encobrir o crime? Que Dilma, como chefe da nação, admita como legítimos os fogos e as bombas em praças públicas como a dos que assassinaram o cinegrafista Santiago Andrade e destruíram uma família? Ou esperam que ela simplesmente se omita diante de fascistas disfarçados de ativistas, covardes que se escondem sob o glamouroso e enganador epíteto de black blocs?

Tenho amigos, e amigas, que no começo achavam tudo lindo e maravilhoso. Que protestar é que é legal, mora!, e que viva a liberdade de manifestação e os protestos! Muitos desses amigos, e amigas, alguns dos quais inclusive me atacaram quando eu dizia que as praças estavam inundadas de fascistinhas, agora estão silenciosos. Não divulgam mais protesto nenhum. Devem estar refletindo. Ou envergonhados.

A Constituição Federal garante a liberdade de manifestação e de expressão, mas não autoriza a barbárie. É preciso dar um basta à covardia dos que se ocultam para destruir e ferir.

Está muito certa, e até demorou para anunciar as medidas, a presidente Dilma ao afirmar que o governo trabalha numa proposta de legislação que reprima toda forma de violência durante as manifestações e que é preciso aplicar penas rígidas a condenados por crimes cometidos durante os protestos.

Já tardava um posicionamento da presidente, cuja origem é por demais conhecida, em favor de cidadãos que querem paz, seja em manifestações, seja ao andar nas ruas que são de todos.

Disse hoje a presidente:

Os órgãos de segurança pública devem coibir a violência, cumprindo a lei, mas é preciso reforçar a lei e aplicar a Constituição, que garante a liberdade de manifestação, mas veda, proíbe o anonimato. Então estamos trabalhando numa legislação para coibir toda forma de violência em manifestações.

Afirmou também:

Defendo toda e qualquer manifestação democrática. Democratas são aqueles que exercem pacificamente seu direito e liberdade de exigir mudanças. São democratas aqueles que lutam por mais qualidade de vida, defendem com paixão as ideias que têm, a grande maioria dos manifestantes. Mas repudio o uso da violência em manifestações e acho inadmissível atos de vandalismo, violência, pessoas que escondem o rosto não são democratas”.

E sobre a Copa do Mundo:

"Planejamos medidas que vão reforçar a segurança nos estados-sede. O governo está em sintonia com os Estados para que possamos atuar de forma conjunta e padronizada. A Polícia Federal, a Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal estão prontas e orientadas para agir dentro de suas competências, e quando for necessário, mobilizaremos também as Forças Armadas."

Concordo com tudo, plenamente.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A imprensa pauta o Judiciário - um episódio didático do círculo vicioso



Valter Campanato/ABr


Uma notícia que todo mundo deu e um detalhe que poucos notaram.

A notícia que todo mundo deu: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, derrubou na terça-feira (11) uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski proferida no período de recesso do STF e das férias de Barbosa em janeiro, quando Lewandowski foi presidente em exercício da “mais alta corte” do país. Na decisão que Barbosa suspendeu, Lewandoswski determinava à Justiça do Distrito Federal a análise de pedido de trabalho externo, feito pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, que cumpre pena em regime fechado (ilegalmente, já que foi condenado ao semiaberto) em Brasília. O pedido de análise do benefício de trabalho externo de Dirceu foi suspenso pela Vara de Execuções Penais do Distrito Federal com base em nota do jornal Folha de S. Paulo de 17 de janeiro. Ao suspender a determinação de Lewandowski, o todo-poderoso Joaquim Barbosa disse que a decisão do colega foi “atropelamento do devido processo legal, pois deixou de ouvir, previamente, o Ministério Público Federal e o juízo das execuções penais, cuja decisão foi sumariamente revogada”.

O detalhe que poucos notaram: A decisão de Lewandowski de 29 de janeiro suspensa no último dia 11, em que ele mandava a Justiça analisar o pedido de Dirceu pelo benefício do trabalho externo, foi suspensa pela Vara de Execuções Penais do Distrito Federal com base, vejam bem (caso o leitor não tenha notado o detalhe no parágrafo acima), em nota da coluna “Painel” do jornal Folha de S. Paulo de 17 de janeiro. A nota da Folha “denunciava” que Dirceu teria usado um celular, infringindo assim normas do sistema penitenciário, prejudicando o pedido do direito ao trabalho externo.


Nota do "Painel" da Folha de S. Paulo de 17 de janeiro

Segundo Lewandowski, as investigações concluíram pela “absoluta falta de materialidade do fato" [o uso do celular por Dirceu] sugerido pela nota de jornal. A “veracidade” da nota da Folha de S. Paulo foi desmentida pelas investigações do Núcleo de Inteligência do Centro de Internamento e Reeducação do sistema penitenciário, disse Lewandowski na decisão que o presidente da "suprema corte" revogou.

Em resumo, é um episódio menor no contexto da Ação Penal 470, mas é muito didático para demonstrar a engrenagem que perpassou todo o processo do chamado “mensalão”: a imprensa pauta o Judiciário com denúncias sem prova, o Judiciário “acata” a denúncia e a transforma em decisão judicial, a imprensa por sua vez repercute, e o Judiciário dá seguimento a esse moto-contínuo, esse círculo literalmente vicioso.

Isso tem tudo a ver com o que me disse em entrevista o jurista Celso Bandeira de Mello na semana passada: “Quem conduziu tudo isso, o chamado mensalão, foi a imprensa (...) Nós não estamos vivendo um momento em que o Direito é muito valorizado” no país. 

Não sou eu quem está falando. É Celso Antônio Bandeira de Mello, mais um jurista de respeito a apontar a autocracia preocupante pela qual passa o país.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Cadê os insetos?


Edu Maretti/outubro 2013
Essa bela mariposa amarela faz tempo que não aparece

Depois da estiagem por que temos passado em São Paulo nas últimas semanas, notei ontem à noite uma coisa sintomática que até então passava despercebida: apesar do calor anormal que atravessa os dias e as noites, e apesar da janela aberta e da lâmpada acesa perto da janela na sala, não aparecem insetos. Onde estão os insetos? Também, e isso é óbvia consequência da falta de insetos, não tenho ouvido passarinhos cantarem, nem mesmo as histéricas baitacas, nem mesmo bem-te-vis. Ou foram para outro lugar ou morreram de sede e fome.

Normalmente, em dias de calor e numa região com considerável vegetação como o Butantã, numa noite de calor o que não faltam são insetos de toda espécie: pequenas mariposas, "fadinhas" (uns insetinhos verdes de asas, que parecem pequenas fadas), joaninhas, pernilongos, às vezes besouros, as temíveis vespas noturnas que já me causaram pânico, enfim, uma miríade desses "invertebrados com exoesqueleto quitinoso, corpo dividido em três segmentos (cabeça, tórax e abdômen), três pares de patas articuladas, olhos compostos e duas antenas", como ensina a Wikipédia.

Quando falo de insetos, e até de uma saudade curiosa que me bateu dessas criaturas "desprezíveis" mas essenciais à vida (ao ecossistema), não me refiro a baratas, é claro. Esse é um animal que, se eu fosse presidente do mundo, mandava extinguir. Mas, graças ao bom Deus, aqui no 8° andar do apartamento em que moramos não existem baratas, nem rasteiras nem voadoras.

Então, voltando aos insetos aceitáveis, não deixa de ser estranho que até mesmo esses pequenos animais que precisam do calor para proliferar tenham desaparecido nos últimos tempos. Mas é óbvio, eles não podem nascer e viver sem água. Por isso é um pouco assustador que nem mesmo insetos estejam povoando as noites áridas da sala da minha casa nesses últimos dias.

Agora há pouco caiu uma chuva como há muitas semanas não víamos (aqui no Butantã, porque tem chovido, mas em pancadas localizadas na cidade: ontem, por exemplo, choveu ma zona Norte e em Osasco, aqui perto, mas aqui não). Hoje a água caiu, finalmente. Mas será suficiente para a volta dos insetos? Não sei. Vou observar atentamente o lustre da sala, para ver se eles chegam atraídos pela luz.

Veja, no vídeo abaixo, "um trecho" da chuva de hoje no Butantã, para matar a saudade! Aos 29 segundos, você poderá observar um raio atravessar a imagem e em seguida o trovão. Chuva, bendita e efêmera chuva!




Abaixo, alguns episódios, fatos (assustadores) e fotos com insetos:

Eu e os insetos (fatos reais!)

A volta da vespa noturna

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Santos, o artilheiro do mundo (ensaio sobre futebol)


Alvinegro da Vila é o time que marcou mais gols na história do futebol, 12.003, até a data de hoje. No sábado 1º de fevereiro, o menino Gabriel, agora mais um dos lendários meninos da Vila, com seus 17 anos, anotou o tento de número 12 mil da história do clube, contra o Botafogo de Ribeirão Preto na Vila Belmiro, na goleada por 5 a 1, após massacrar o Corinthians pelo mesmo placar três dias antes.


Ivan Storti/Divulgação Santos FC
O "menino da Vila" Gabriel, autor do gol 12 mil, aos 17 anos



O título do post é autoexplicativo. Nunca consegui falar de futebol de maneira muito informativa. São as minhas divagações de sempre, que às vezes fogem quase completamente do tema.

Os que me conhecem já devem estar pensando que venho dizer que o Santos é isso, que o Santos é aquilo, que é mágico, que é filho de Iemanjá, que parou uma guerra, que o Santos é o time mais glorioso de todos os tempos etc. etc. etc. Não, nada disso, não vim falar nada disso. Mesmo porque se dissesse isso diriam: "mas o Santos só tem dois títulos do Mundial de Clubes, um título da Recopa Intercontinental, três títulos da Copa Libertadores da América, um título da Recopa Sul-americana, um da Copa Conmebol, um da Supercopa Sul-americana, oito Campeonatos Brasileiros (títulos nacionais unificados), uma Copa do Brasil, cinco títulos do Torneio Rio-São Paulo, vinte do Campeonato Paulista, uma Copa Paulista etc. etc. etc." e sei lá o que mais diriam... Mas aos que diriam isso eu digo que também não vim falar disso, porque sei que há clubes no mundo com mais títulos que o Santos. Também meu objetivo não é justificar o fato de o Santos ser o único time grande do futebol brasileiro que não pertence à capital de seu Estado, pertence a uma cidade com menos de 500 mil habitantes.

Sei que o futebol é um ramo bastante poluído pelo enorme interesse que desperta. Há bilhões de dólares circulando no futebol. Seria um hipócrita se dissesse que é apenas um esporte e que os negócios pouco interferem. Porém, há motivos justos para se gostar do futebol, independentemente dos resultados, que são descaradamente manipulados, em alguns casos que todo boleiro bem informado conhece. E ainda assim há motivos para se gostar do futebol.

Os que me conhecem costumam dizer que sou santista porque meus pais são santistas. Este fato não nego, porém também não afirmo, pois não posso retroceder no tempo, alterar o destino e depois colocá-lo em andamento novamente para saber qual seria o resultado do meu presente. Mas uma coisa posso afirmar, se não fosse santista, muito provavelmente hoje em dia teria um certo desinteresse pelo futebol. Quando era criança, tive alguma empatia pelo Clube de Regatas Flamengo, mas apenas a ponto de querer que vencesse os demais times que não fossem o Santos. Hoje em dia o Mengão não passa de mais um clube dentre os tantos no mundo, com uma gigantesca torcida preta e vermelha, combinação que me agrada os olhos.

Retomando, vim aqui para dizer apenas uma coisa, todas as outras coisas que disse podem cair em argumentações sem fim e reafirmo que há outras atividades na vida além de discutir futebol.

Mas há algo que ainda vale a pena e em que dólar nenhum manda.

Há quem diga que título é o que importa. Para estes, eu diria que passem a ser fanáticos torcedores do Real Madrid (time pelo qual nutro verdadeira ojeriza), do Barcelona, do Bayern de Munique, do Milan, da Juventus etc. etc. etc. É natural que um time tenha a necessidade de ganhar títulos. O Santos não é o time com mais títulos no mundo.

Vincent Van Gogh, para os meus olhos o maior pintor de todos os tempos, vendeu apenas um quadro em sua vida, o que quer dizer que suas conquistas em termos de “títulos” beiraram o zero. Carlos Drummond de Andrade, para o meu cérebro comum, o maior poeta que já li e imenso contista, nem em dez reencarnações faria fortuna como já fez J. K. Rowling com seu Harry Potter. Esta é uma comparação desmesurada, claro, mas nem sequer posso comparar Drummond a algum poeta que tenha ficado rico apenas vendendo poesia, pois não há, a despeito de a poesia ser geralmente pioneira nas tendências da arte.

Sim, preciso ver arte no futebol, de outra forma teria verdadeira preguiça de assistir a jogos. Bom, cansei de dizer o que não diria. O único fato que me leva a redigir tantas letras em favor do futebol é a arte que nele há. E nisto diria que há ainda um motivo justo para se gostar de futebol, para ligar a diabólica televisão ou conectar-se à poluída internet para ver um jogo: o gol. É claro que só marcar gols não é suficiente para ganhar jogos nem títulos, mas é natural que um time que faça muitos gols ganhe muitos títulos, mesmo que não todos! O gol é a maior alegria de um torcedor. Jamais torceria para meu time ganhar um campeonato fazendo poucos gols e sofrendo menos que fazendo. Sinto verdadeiro tédio com isso.

Senti verdadeiro tédio quando, após ganhar a Libertadores com o padrão de jogo característico, Muricy Ramalho transformou o Santos em um time de futebol horroroso e retranqueiro. Para os adoradores do futebol de resultado, diria que poucas vezes me deu tanto prazer de ver futebol quanto no simples Campeonato Paulista de 2010. Há torcedores que não tiveram tanto prazer vendo seu time ganhar o Campeonato Brasileiro. Para mim, ver o Santos jogar nunca foi motivo de luta, guerra ou resultado, mas simplesmente bom futebol e acima de tudo gols!

Mas, infelizmente, não são todos os torcedores do mundo que elegem o gol e um futebol bonito de encher os olhos de leigos e troianos como as melhores características dos clubes para os quais torcem. O objetivo de um time de futebol é fazer gols. Também é não tomar, mas, como disse, sinto tédio com jogos em que o objetivo de um time é não tomar e, quem sabe, fazer. Ser um campeão invicto com um a zero, meio a zero, um décimo a zero é algo que, particularmente, não me agrada.

Estou aqui para lembrá-los de que a torcida do Santos Futebol Clube é a torcida mais feliz do mundo e que mais tem motivos para ignorar a desgraça política em que está metido o futebol. Gols, moleques que só querem saber de brincar com a bola e fazer gols. Fiquem com os seus Barcelonas (Muricy já foi embora e levou os quatro a zero com ele), Real Madrids, Milans, Palmeiras, Corinthians, São Paulos, Boca Juniors... o Santos é o artilheiro do mundo. Venham bater uma bolinha irreverente com o Peixe, e quem sabe, num dia inspirado, a poesia aconteça mais uma vez.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O caos no metrô, os "trens fantasmas" e o cartel


Ontem, mais um dia de caos e pânico no metrô de São Paulo. Coincidentemente, na segunda-feira, 3,um dia antes, fiz uma matéria para a RBA, após uma coletiva do promotor  Marcelo Camargo Milani, em que este afirmou que o secretário de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, pode sofrer ação pelos graves problemas gerados pelo sistema de operação CBTC. Trata-se do sistema informatizado que aparentemente está causando panes e incidentes e está relacionado à bilionária reforma de 98 trens das linhas 1 e 3 do Metrô.

A reforma tem íntima relação com a formação de cartel, denúncia encaminhada ao MP pela primeira vez em 2008, mas que só começou a vir à tona no ano passado, embora os contratos de reforma dos 98 trens tenham sido assinados pelo governo de São Paulo entre 2008 e 2009 (governo José Serra).

Quatro contratos de reforma dos 98 trens, objeto de apuração do Ministério Público de São Paulo, estão suspensos por 90 dias.

Clique para ampliar
Detalhe relevante (mensagem do meio): "problema de portas"

Os quatro contratos suspensos, firmados em processo que foi dos anos 2008 a 2009, são os seguintes: ModerTrem (Alstom e Siemens); BTT (Bomberdier, Tejofran e Temoinsa), consórcio Reformas Metrô (Alstom e Iesa) e MTTrens (MPE, Projetos Especiais e Temoinsa), segundo o promotor.

Em agosto do ano passado, a RBA dava uma matéria sobre a tal reforma, tema até então pouco ou nada mencionado na imprensa: “uma reforma bilionária em trens do Metrô de São Paulo – cujos contratos também estão sob investigação do Ministério Público – pode estar da origem das centenas de incidentes ocorridos no sistema nos últimos anos, cujo episódio mais grave foi o descarrilamento de uma composição na Linha Vermelha, entre as estações Marechal Deodoro e Barra Funda, na última segunda-feira (5/08/2013).

"Nos testes, os trens abrem a porta e desaparecem da tela. Os operadores não sabem onde o trem está. Por isso cunharam o apelido de trem-fantasma. O CBTC é um dos principais motivos dos atrasos no cumprimento dos contrato", disse o promotor Milani na última terça-feira, 03/02/2014.

São conhecidos e recentes vários relatos de portas se abrindo do nada na linha 3 Vermelha.

Também curiosamente, como se pode ver na imagem da página do twitter do próprio metrô, acima, “um trem apresentou falha de portas na estação Sé”.

Não sou técnico e não entendo de tecnologia. Mas as peças vão se encaixando cada vez mais.

Leia sobre o assunto e tire suas próprios conclusões:

09/08/2013
Reforma bilionária sob investigação pode estar na origem de incidentes no Metrô-SP

03/02/2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Clima semiapocalíptico em São Paulo vai continuar




Pôr do sol ontem, 1º de fevereiro

A alta temperatura em São Paulo e a falta de chuva estão deixando os paulistanos catatônicos. Estamos vivendo, pelo menos até aqui, o horrível janeiro mais quente da história da cidade, ou pelo menos desde que existem medições, em 1943. Parece uma doença da natureza.

Quem não é de São Paulo não imagina o que é a sensação dessa canícula misturada ao ar seco, que reverbera no concreto e se mistura à poluição. Um cenário apocalíptico.

Exageros (exageros?) à parte, o pior de tudo é que as notícias, segundo o Climatempo, não são nada boas. “A próxima quinzena ainda será de pouca chuva” e, “segundo dados da Sabesp, o sistema Cantareira, que abastece parte da Grande São Paulo, estava com 21,7% da capacidade neste domingo (02)”. “As frentes frias vão continuar bloqueadas por um forte massa de ar seco (sistema de alta pressão atmosférica chamado Alta Subtropical do Atlântico Sul)” nas próximas duas semanas, diz o Climatempo.

“A umidade relativa do ar está em 20%, valor que já entra na faixa considerada estado de alerta pelos critérios da Organização Mundial de Saúde.” É difícil manter o bom humor nessa situação.


À noite, nada de vento: ar parado

Li que, em Porto Alegre, o mês foi o mais quente em quase 100 anos.

Enquanto isso, os Estados Unidos vivem uma onda de frio também anormal, com nevascas incomuns. Milhares de estudantes ficaram presos nas escolas na terça-feira (28) no sudeste do país.

Fico pensando em como nós, seres humanos, somos frágeis. Se pensarmos que na situação atual a temperatura média em São Paulo no mês de janeiro (31,9ºC) bate o recorde de 1956 (30,9 ºC), é fácil concluir que um desequilíbrio de magnitude mais ou menos intensa que elevasse tais distorções a situações, na média, três a quatro graus centígrados para cima (onde faz calor) e para baixo (onde faz frio), começaria a tornar a vida em algumas grandes metrópoles impossível.

A previsão do clima para a cidade de São Paulo está aqui, segundo o Climatempo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O beijo gay da Globo e o inconsciente coletivo


Agora, sim.  A Rede Globo consegue conquistar, pelo inconsciente coletivo (mas também pelo consciente coletivo!), uma legião de gente com o beijo gay dos personagens Félix e Niko. Que beleza, como diria o narrador.

Como escrevi no Facebook, é estarrecedor as pessoas comemorarem um beijo. A TV Globo que tantos (esquerdistas) acham a encarnação do demônio na Terra deve estar comemorando! Aliás, ninguém se lembra que Luciana Vendramini e Giselle Tigre na novela “Amor e Revolução” (2011), do SBT, já tinham dado um beijo gay.


Primeiro beijo gay da TV: Luciana Vendramini e Giselle Tigre

É como se, no inconsciente coletivo (como diria Jung), a sociedade brasileira, de esquerda, de direita, de centro e de outros pontos do espectro político e moral, finalmente chegasse à conclusão de que “então tá bom, a TV Globo falou, tá falado. Agora pode. A Globo deu!”

A Globo deu, a Globo conquista corações e mentes. A Globo manda no Brasil.

Mas... como é que fica mesmo a discussão da democratização da mídia? Os artigos 220 a 223 da Constituição Federal? Ou vocês acham que a Globo dá ponto sem nó? É tão simples! Ela está apenas incorporarando alguns pontos de audiência -- talvez um anunciante novo, quem sabe? Aquele que você, com seu deslumbramento de rã, vai ajudar a pagar, caro telespectador.

Daqui a pouco ninguém se lembra mais de que nunca foi regulamentada a determinação de que “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”; ou de que lei federal deve “estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem (...) da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”.

Tem gente que acha que a cena do beijo gay da Globo foi finalmente o reconhecimento da razão da luta pela igualdade, contra a discriminação. Agora, sim. A Rede Globo falou, tá falado.

Mundo mundo vasto mundo. Viva a TV Globo! Viva a esquerda brasileira! Viva a direita brasileira! Viva o povo brasileiro!