domingo, 29 de abril de 2012

Santos elimina o São Paulo no Morumbi sob os brados de "Olé"


Inapelável, a vitória de 3 a 1 do Santos, vestido de azul, sobre o São Paulo, no Morumbi, na tarde deste domingo, pela semifinal do Paulistão 2012, em jogo único. Morumbi onde, como registrei mais de uma vez neste blog, o Santos tem o hábito de jogar à vontade e ganhar mata-matas e títulos, inclusive do São Paulo, que hoje manteve a sina de freguês em jogos eliminatórios.

Foto: Ivan Storti/ Santos FC
Craque marcou três e acabou com o Tricolor

É o terceiro Paulistão seguido em que o time do litoral despacha o da capital na fase semifisal. Em 2010, o Peixe eliminou o Tricolor em dois jogos, ganhando de 3 a 2 no Morumbi e 3 a 0 na Vila, levantando em seguida o título estadual batendo o Santo André (relembre neste link). Em 2011, novamente o time da Vila eliminou o São Paulo na semi, em partida única, 2 a 0, no mesmo estádio no Jardim Leonor, e veio a ganhar na sequência o bicampeonato paulista, derrotando o Corinthians na final.

No grande jogo deste 29 de abril, é de se louvar a atuação impecável da defesa santista, excetuando o lateral direito Maranhão, que, perdido no primeiro tempo, foi bem coberto por Edu Dracena. Primeiro tempo que terminou num quase confortável 2 a 0 para o time da Vila. De quebra, com o episódio histórico que aconteceu logo a 2 minutos de partida: Neymar, de pênalti, sofrido por Alan Kardec após grande jogada de Arouca, fez com categoria o gol número 100 com a camisa alvinegra.

Mesmo sofrendo pressão incessante do bem montado time de Émerson Leão (desfalcado de Luís Fabiano, suspenso, mas contando com o perigoso e imprevisível Lucas), a esquadra de Muricy Ramalho jogava de maneira compacta e, com a técnica que desequilibra, aumentou a vantagem: num erro da saída de bola do São Paulo, Ganso (meio apagado na partida) serviu Neymar. E o Rey, a seu estilo, venceu a zaga adversária na explosão e velocidade, mandando para as redes, no canto direito de Dênis: 2 a 0 a 31 da etapa inicial.

No segundo tempo, o time do Morumbi continuou pressionando e, aparentemente, dominando as ações. E ainda contou com o apito amigo do sempre polêmico árbitro Paulo César de Oliveira. A arbitragem invalidou duvidosamente um gol do Santos (alegando falta de ataque) e deu o gol tricolor, claramente ilegal (por impedimento), aos 18 min do segundo tempo... e o São Paulo voltou a respirar.

Mas, aos 32, após triangulação perfeita de Ganso a Léo e deste a Neymar, o craque fez seu terceiro gol no jogo (e o 102° pelo Santos), com a colaboração do arqueiro Dênis, que ficou com as penas nas mãos. Por falar em goleiro, o San-São de hoje teve três em campo, mas Aranha, que entrou no lugar do cada vez mais vacilante Rafael, foi o melhor dos três.

E palmas a Léo, que parece ser o único a botar ôtoridade na lateral esquerda do time do Santos, sim senhor.

E palmas ao Santos, que eliminou o São Paulo no Morumbi sob os brados da minoritária torcida alvinegra no Morumbi gritando "Olé, Olé, Olé, Olé..."




Bugre bate a Macaca

Com a vitória do Guarani sobre a Ponte Preta, também por 3 a 1, em jogo tecnicamente muito ruim, a final será Santos x Guarani nos próximos dois fins de semana. Seja como for, muito bacana o derby campineiro ter acontecido nesta semifinal. Parabéns ao trabalho de Osvaldo Alvarez, o Vadão. Mas acho que o Bugre conseguiu o título que queria, fazendo uma campanha excelente e eliminando o arqui-rival campineiro na semifinal.

O Peixe é franco favorito contra o time esmeraldino. Na última partida entre ambos, pela fase de classificação deste Paulistão de 2012, com o time reserva “do goleiro ao ponta esquerda”, o Peixe derrotou o Bugre em Campinas por 2 a 0.


Atualizado à 01:12

sábado, 28 de abril de 2012

Melhores termos de busca - abril de 2012


Depois de algum tempo sem as tradicionais postagens sobre melhores termos de busca, segue uma coletânea colhida agora em abril, mais uma vez a mostrar a inteligência e sapiência dos internautas. O último post reunindo tais pérolas publiquei com as melhores palavras-chave do terceiro trimestre de 2011, neste link. Outras postagens estão aqui e aqui.

Como de costume, os termos pelos quais os geniais internautas entraram no blog a partir do que digitaram no Google e outros sites de busca estão em itálico (com a grafia original: é copy/paste). Abaixo deles, minhas respostas.

Boa leitura!

Os melhores termos de busca de abril de 2012

a mulher que entrava no senado de ronaldinhno gaúcho
- Em que país? Não conheço a instituição senado de Ronaldinho Gaúcho na República Federativa do Brasil. Obrigado pela visita.

Adiós messi
- Adiós, adiós! Podem me chamar de santista rancoroso, mas que prazer dar adiós a Messi e ao Barcelona !


as revoluçoes das moscas das bananas
- Em épocas de mudança de era, tudo é possível. Fico imaginando como se sentiria Robespierre, Danton, Lênin, Trostsky e outros, ao saber que hoje simples insetos são capazes de os destronar no caldeirão da história. Pobres espíritos. Mas, além de revolucionária, a Drosophila melanogaster é também manguaça. A prova, científica, está neste post.

e dai roberio de ogum quem sera o campeao paulista santos ou sao paulo 2012
- Amigo internauta, como já dissemos anteriormente, este blog não dá consultas espirituais.

corpo de frango e cabeça de frango julio Cesar
- Só conheço, na mitologia ou na história, uma criatura com essas características, que, com certeza, não é o líder militar e político romano Caio Júlio César (100 a.C. – 44.a.C.) . E sim o praticante de um esporte inventado pelos ingleses. Essa personagem mitológica, dizem, é (ou era) capaz de trazer angústia e tristeza a multidões de fiéis que acreditavam em seus poderes, que para alguns fanáticos eram maiores do que dos próprios imperadores romanos.

numeros do camarao no jogo do bicho e o numero da sorte
- Diz a Wikipédia: “O termo camarão (do latim cammārus, caranguejo do mar, camarão, lagostim, derivado do grego kámmaros, ou kámmoros) é a designação comum a diversos crustáceos da ordem dos decápodes, podendo ser marinhos ou de água doce. Tais crustáceos possuem o abdome longo, corpo lateralmente comprimido, primeiros três pares de pernas com quelas e rostro geralmente desenvolvido”... Mas, leitor amigo, não conheço qualquer relação do crustáceo com o jogo do bicho. Castor de Andrade riria da sua pergunta, se vivo fosse.

golfinhos podem estuprar pessoas?

- Dizem que golfinhos, de nome científico Delphinus delphis, são seres muito inteligentes e os cientistas vão descobrindo mais e mais coisas sobre essas criaturas. Mas não há relatos na literatura científica a respeito de semelhanças de comportamento sexuais obsessivos entre o Delphinus delphis e o Homo sapiens.

o corinthians vai ser desclassificado nas oitavas na libertadores fotos

- Prezado internauta. Tais fotos ainda não estão disponíveis. Assim que as tiver, eu as publicarei aqui. Fique ligado. Obrigado pela visita.

porque duas baratas voaram pra cima de mim?
-
Porque baratas são seres inteligentes. E porque você, caro leitor, tem medo de baratas e elas sentem isso. Assim, têm prazer em causar pavor em você. Mas duas de uma vez só? Isso é curioso e estranho. Conselho: acautele-se, pois da próxima vez poderão ser três. A propósito, como já escrevi em comentário a um post sobre insetos, o medo de baratas tem um nome científico, específico: catsaridafobia.


qual o coice mais violento do mundo
-
Entre os eqüinos, uma espécie laranja conhecida como De Jong talvez seja o dono do coice mais violento do mundo. O espanhol Xabi Alonso é testemunha desse poder destruidor.

como ver o povo das sombras

- Indo a uma reunião de tucanos

fui no masp e vi a estatua de júpiter
-
Que legal! Eu também. Parabéns.

quantos anos monteiro lobato tem?
-
A conjugação do verbo está errada. Aqui, a gramática manda colocá-lo no futuro do pretérito: quantos anos Monteiro Lobato teria (se estivesse vivo)? Resposta: teria 130 anos, pois nasceu em 1882 (e morreu em 1948).

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pensamento para sexta-feira [29] - Aspirina



Podemos dizer que este é um post de utilidade pública: é recomendado pelos médicos, principalmente a quem fuma, tomar aspirina diariamente. A médio e longo prazo, esse hábito pode salvar uma pessoa de um infarto. Um grande amigo meu, cujo filho é médico, disse-me dias atrás que há 20 anos ingere religiosamente uma aspirina por dia, do comprimido adulto. Minha cunhada Elisa, também médica, igualmente recomenda, mas em seu caso a receita tem ligeira variação: duas aspirinas infantis por dia.

Ocorreu-me publicar este post após receber um e-mail de Alexandre Indiana sobre o assunto. Diz ele:

Por Alexandre Indiana

Aspirina é muito bom. Eu carrego sempre no bolso. Não sigo a ferro o sistema [de tomar uma dose por dia, religiosamente], mas qualquer dorzinha vou lá tomar uma aspirina. Ou me dá na telha, tomo uma.

Foi comprovado cientificamente que ela é eficaz na prevenção de alguns tipos de tumores, incluindo o de intestino. Mas muita aspirina pode causar problemas estomacais, mas vai de cada um.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sobre Libertadores e espetáculos tribais

Gols de Bolívar 2 x 1 Santos (La Paz, 25/04/2012)



A Libertadores é uma competição cuja mentalidade parou no tempo: parece que tem que se manter no século passado, com juízes ladrões, violência liberada, objetos atirados por torcidas insanas, estupidez, comportamentos tribais, coisas primitivas – e tudo isso aclamado com a subserviência de sempre: “isso é Libertadores”, dizem atletas, dirigentes, cartolas e jornalistas esportivos.

Se fosse para falar só de futebol, eu preferiria abordar a espetacular classificação do Bayern de Munique à final da Liga dos Campeões da Europa, ao eliminar o real Real Madrid em pleno Santiago Bernabeu, nos pênaltis, depois de dois placares iguais em ida e volta: 2 a 1 para o Bayern na Alemanha, 2 a 1 para o Real em Madri. A disputa entre madridistas e bávaros foi futebolística. E, com a eliminação do Barcelona pelo Chelsea, a final será Bayern x Chelsea, dia 19 de maio, em Munique (local pré-determinado desde antes da competição começar). Já nas alturas de La Paz (me perdoem a incorretice política) o que prevalece é uma espécie de amadorismo de republiquetas de bananas. Uma coisa ridícula, tribal mesmo, com o aval da Conmebol, da CBF e demais entidades envolvidas.

Noves fora zero, a vitória do Bolívar sobre o Santos por 2 a 1 na capital boliviana pelas oitavas-de-final não significa nada, porque, como disse Neymar após o jogo em que apanhou, de novo, bastante: “eles pensam que é só ida, mas vai ter a volta” (adoro em Neymar seu sempre inconformismo com a derrota). Na volta, esquecidos dos pontapés e cotoveladas que deram em La Paz, eles virão a São Paulo ou a Santos perder fácil e pedir autógrafos, vão poder contar às gerações de seus netos que enfrentaram o grande Santos de Pelé e Neymar no Brasil, coitados.

O jogo

Quanto ao prélio propriamente dito: um ponto vulnerável da defesa do Santos foi a lateral esquerda: Juan subia, perdia a bola, não dava conta de voltar e Durval era obrigado a cobri-lo. No primeiro tempo, o quarto-zagueiro tomou um amarelo nessa função de cobrir o lateral ausente. Henrique fez falta (reconheço).

O esquema ofensivo santista é limitado e se resume ao seguinte: “dá no Neymar”. Ora, não é possível o moleque resolver tudo sempre, sozinho. No primeiro tempo, embora Elano tenha irritado parte da torcida, pelo menos ele se apresentou pro jogo, chutou errado (mas chutou), e cobrou a falta que resultou no tento de empate. Já Paulo Henrique Ganso praticamente não foi visto em campo. Nem Íbson, que substituiu Elano. O gol da vitória do Bolívar saiu de mais uma falta cometida pelo lateral Juan de maneira tola, Juan que para mim foi o pior do time (péssimo) em campo.

E o juizinho chileno Enrique Osses, que sem-vergonha! Uma arbitragem escandalosamente caseira. Mas, é normal (favor reler o primeiro parágrafo deste post).

E domingo tem São Paulo x Santos, no Morumbi, pela semifinal do campeonato Paulista. Perca ou ganhe do Tricolor, e depois de eliminar os índios da Bolívia, o Santos terá um adversário bem mais duro nas quartas-de-final da Libertadores: o argentino Vélez Sarsfield ou o colombiano Atlético Nacional de Medellín, dois dos melhores times da Libertadores de 2012.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Barcelona cai


*Atualizado às 21:06

Com o empate em 2 a 2 no Camp Nou diante do Chelsea e pênalti perdido por Messi, "melhor time do mundo" é eliminado da Liga dos Campeões


Isso é futebol. Para tristeza dos baba-ovos, dos apressados e colonizados que não se cansam de enfadonhamente repetir a cada 10 minutos de narração (vide Paulo Andrade) que o atual Barcelona é “um dos melhores times de todos os tempos”, o Chelsea eliminou os catalães em pleno estádio Camp Nou com gols de Ramires (ironicamente, um golaço de cavadinha, à la Messi) e Fernando Torres. E aqui a segunda ironia: Torres, que pelo Atlético de Madrid havia anotado sete gols em dez jogos contra o rival Barcelona, entrou no lugar do leão Didier Drogba para cumprir a sina de carrasco com o golaço que foi a pá de cal na trajetória do time de Pep Guardiola na temporada. Querem a terceira ironia? Messi, o amado Lionel, foi quem perdeu o pênalti que faria 3 a 1 e certamente teria desclassificado os londrinos.


Manchete do jornal Marca na edição online


Os gols estão neste link (pelo You Tube, os vídeos estão bloqueados em nome dos direitos da UEFA). Na narração, Galvão Bueno, que vibrava pelo "Barça" como se fosse o Brasil, após o segundo gol dos espanhóis previu: “segura que vem chocolate!".

Para uma equipe considerada a “melhor do mundo”, convenhamos, as coisas estão meio fora do eixo. Vem de uma derrota no jogo de ida da Liga dos Campeões (1 a 0 para o Chelsea*), outra para o Real Madrid (2 a 1) que lhe custou o título espanhol e agora a desclassificação da liga européia. Nos dois jogos contra os ingleses, a pressão de ter que marcar deixou o time nervoso, que usou até chuveirinhos.

Melhor do mundo, ma non troppo

Aqui entre nós (e não se trata de mero despeito de santista): o “Barça”, como dizem os encantados brasileirinhos, não chega nem aos pés do Santos dos anos 60 (que encantou o mundo durante uma década), nem do Ajax dos anos 70 com seu futebol revolucionário (do qual Pep Guardiola é um discípulo). O time catalão para mim não é melhor do que Flamengo dos anos 1980 de Raul, Leandro, Mozer, Júnior, Adílio, Andrade e Zico, um time fabuloso que parece ter sido esquecido ante a moda catalã. Para não falar de outros times da história. Ou seja, o Barcelona precisa comer muito feijão ainda, e manter uma hegemonia mais consistente por mais tempo, para entrar na galeria dos “melhores de todos os tempos”.

Outra: o futebol baseado na posse de bola não foi inventado pelo atual “melhor do mundo”. Essa era a principal característica dos times de Carlos Alberto Parreira, como a seleção de 1994 e o Corinthians de 2002. Claro, o Barcelona joga infinitamente mais bonito, tem jogadores diferenciados, e por isso sua normalmente enorme posse de bola é fatal. Não se trata de dizer que é um time qualquer. Mas o Santos, em dezembro, perdeu daquela maneira porque entrou na onda e amarelou.

Por fim, se “um grande time começa com um grande goleiro”, então o Barcelona precisa pensar nesse conceito, pois seu camisa 1, Victor Valdés, é medíocre.

Deusa fortuna e milagre

Inferior, o Chelsea jogou como um ferrolho em forma de time de futebol. Tinha tudo contra. Tomou 1 a 0. Perdeu os dois zagueiros titulares ainda no primeiro tempo: John Terry expulso e Cahill machucado. Levou o 2 a 0. Mas Ramires fez o gol que o manteve com vida ainda na primeira etapa. Completamente recuado, tomou uma pressão impressionante durante todo o jogo, mas, como diz o jornal espanhol Marca, o time de Messi “caiu ante uma equipe inferior como o Chelsea, que se aliou com a deusa fortuna para lograr um milagre”.

E é disso que vive o futebol. De jornadas espetaculares. De alianças com os deuses. De lutadores como Drogba e Ramires, que hoje superaram qualquer coisa que se pudesse esperar deles, já normalmente aguerridos.

No jornal As, Messi é humano
E, ao contrário da imprensa tupiniquim, na Espanha o “melhor do mundo” Messi também é tratado como um mortal: “Messi não esquecerá desta temporada seus erros desde a marca de pênalti”, comentou o Marca, já que o argentino tem perdido penalidades frequentemente, em jogos importantes.

E agora não é mais possível a revanche Santos x Barcelona no Mundial de clubes em dezembro. Que pena.

Movimento pede a Daniela Mercury que cancele show em Israel


Reprodução
A cantora baiana
Um abrangente grupo de movimentos sociais do Brasil e de Portugal, partidos políticos e sindicatos de várias tendências enviou uma carta à cantora Daniela Mercury pedindo à artista para cancelar o show marcado para o próximo dia 10 de maio em Israel. A ação faz parte da campanha por Boicotes, Desinvestimento e Sanções (BDS) ao apartheid promovido contra palestinos pelo estado israelense.
A carta à cantora afirma:

Amigos palestinos, admiradores de sua música nos escreveram assim que souberam que você pretende fazer um show em Israel, em maio próximo.

“Como parte do chamado feito pela sociedade civil palestina em 2005 para o Boicote, o Desinvestimento e Sanções (BDS), e inspirado pelo boicote cultural ao apartheid na África do Sul, o povo palestino pede a artistas internacionais que se juntem ao movimento BDS cancelando shows e eventos em Israel, que só servem para igualar o ocupante ao ocupado e, portanto, promover a continuação da injustiça (...)

“Em outubro de 2010, o sul-africano Desmond Tutu, consagrado com o Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o apartheid, apelou à ópera de seu país cancelar a apresentação agendada em Israel. Um show em território israelense enfraquece a chamada para o BDS até que Israel cumpra os requisitos básicos do direito internacional, pondo fim à ocupação militar, à tomada de terras e à construção de novas colônias nos territórios palestinos. Na mesma linha, respeite os direitos humanos, à autodeterminação do povo palestino e ao retorno a suas terras e propriedades.”

No apelo à cantora baiana, o movimento destaca que “a participação em um show em Israel não é um ato neutro, desprovido de qualquer mensagem política”. Referindo-se a Daniela Mercury, enfatiza: “você estará apoiando a campanha israelense para encobrir violações do direito internacional e projetar uma imagem falsa de normalidade. Qualquer afirmação em contrário que um artista deseje fazer por meio de sua participação nesse evento será ofuscada pelo fato de que está atravessando um piquete internacional, estabelecido pela grande maioria das organizações da sociedade civil na Palestina. Na verdade, uma mensagem de paz justa atingirá muito mais pessoas, incluindo israelenses, se você cancelar a sua participação”.

Artistas engajados

Elvis Costello, Gil Scott Heron, Carlos Santana, Devendra Banhart e os Pixies se recusaram a realizar shows em Israel em 2010.

Roger Waters (da lendária banda Pink Floyd) é um dos artistas que assumiram abertamente a defesa da causa palestina. Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro por ocasião de suas apresentações no Brasil, ele criticou no começo de abril o governo israelense e declarou seu apoio à campanha BDS. Por isso, Waters foi acusado de fazer “declarações antissionistas” pelo advogado da Federação das Indústrias do Rio de janeiro, Ricardo Brajterman, segundo a coluna de Ancelmo Gois, de O Globo.

Já Roberto Carlos...

Já o brasileiro Roberto Carlos, um dos artistas mais populares do país, deu um show em Tel Aviv em setembro de 2011. O espetáculo movimentou cerca de R$ 30 milhões, segundo a imprensa divulgou. Lembremos que Roberto Carlos há décadas prega em suas músicas a paz dos homens e canta o amor pelo próximo e a Jesus.

O problema é justamente o dinheiro: o enorme giro de capital interessa mais aos superstars do que qualquer causa humanitária ou política. Daniela Mercury – que defende a sustentabilidade, os índios e é embaixadora da Unicef – vai quebrar essa lógica ou seu lado empresária vai falar mais alto?

Leia tambémCriação do Estado da Palestina é a causa mais importante do início do século XXI

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia de São Jorge


São Jorge e o Dragão, de Gustave Moreau
Dia 23 de abril festeja-se um dos santos mais populares do mundo. Ele é cantado em prosa e verso como Jorge da Capadócia.

A data, segundo a tradição, é a da sua morte, ordenada por Diocleciano (imperador romano de 284 a 305) no ano de 303 de nossa Era.

No Oriente, o santo guerreiro é chamado de o Grande Mártir. É celebrado pelos cristãos nos quatro cantos do planeta. Graças ao sincretismo, no Brasil é identificado com Ogum, entidade que preside a guerra, ferreiro, senhor das armas e dono das estradas, tanto que canta Jorge Ben Jor na sua popular “Jorge de Capadócia”: “Ogan, toca pra Ogum”.

O santo é padroeiro da cidade de Gênova, de Portugal (onde está o Castelo de São Jorge, em Lisboa), da Lituânia e da Inglaterra, e também da região da Catalunha. No Rio de Janeiro, embora o padroeiro da cidade seja São Sebastião, 23 de abril é feriado.

Conta a história que, nascido na antiga Capadócia (que atualmente faz parte da Turquia), ele foi um soldado, tribuno Militar do Império Romano na época de Diocleciano. Converteu-se ao cristianismo e, por afirmar sua fé mesmo sofrendo bárbaras torturas, teria sido decapitado em Nicomédia, em 23 de abril de 303, aos 28 anos, por ordem do imperador. Suas supostas relíquias (restos mortais) estão em Lida (Israel, 30 Km de Tel-Aviv).

São Jorge é também festejado em 3 de novembro, data da reconstrução da igreja dedicada a ele na mesma Lida (Israel) e construída por ordens do imperador Constantino.

domingo, 22 de abril de 2012

São Paulo e Santos duelam nas semifinais; com goleiros frangueiros, Corinthians e Palmeiras caem


PAULISTÃO 2012 - MATA-MATAS

 Reprodução
Roger, o 9 da Ponte, comemora
Ao invés de derby em São Paulo, derby em Campinas. A Ponte Preta surpreendeu e, jogando melhor, bateu o Corinthians no Pacaembu por 3 a 2. Pelo mesmo placar, o Guarani despachou o Palmeiras em Campinas. Com a classificação do bugre para as semifinais do Paulista, mais uma vez não haverá uma final Santos x Palmeiras – e a aposta que fiz com um palmeirense fica para outra oportunidade.

Sem surpresas, o São Paulo bateu fácil o Bragantino no Morumbi (4 a 1) enquanto o Santos não teve dificuldades para fazer 2 a 0 no Mogi Mirim na Vila.

Assim, as semifinais do estadual, no próximo fim de semana, terão:

São Paulo x Santos no Morumbi
Guarani x Ponte Preta - teoricamente no Brinco de Ouro, local a se confirmar devido à violência que tem cercado o clássico campineiro.

Observações:

Foto: Divulgação/ Santos FC
Santistas comemoram primeiro gol, de Maranhão
San-São - O título, que estará virtualmente nas mãos do vencedor do clássico, seja contra Bugre ou Macaca, tem sabor especial para Santos ou São Paulo: para o Alvinegro porque será o primeiro tricampeonato na história do estadual desde 1969, quando o próprio Santos o conquistou; para o time do Morumbi, porque desde 2008 o clube não ganha nem campeonato de pebolim e seu último “Paulistinha” (como preferem dizer os são-paulinos) foi conquistado em 2005.

Embora seja na casa do adversário, o Peixe historicamente joga à vontade no Morumbi, onde cansou de ser campeão e de bater o Tricolor. Não há favorito.
Reprodução
Júlio César ficou com as penas na mão no 1° gol

Troféu Frango - Numa roda de amigos meses atrás eu disse que os goleiros de Palmeiras e Corinthians dariam muitas alegrias às torcidas rivais este ano. E, de fato, já no Paulistão (ou Paulistinha, como queiram) o corintiano Júlio César deu dois gols de presente para a Macaca (sendo o primeiro gol do jogo um frango e o terceiro uma saída errada), enquanto o palmeirense Deola conseguiu a proeza de falhar nos três tentos do Guarani (o primeiro, gol olímpico de Fumagalli). Péssimos goleiros (e não é de hoje), autênticos frangueiros que não honram as tradições das respectivas camisas 1. As torcidas devem ter vergonha de arqueiros desse nível defendendo suas metas.

Reprodução
Felipão – O treinador estava bastante abatido na entrevista coletiva (foto ao lado) depois de mais uma desclassificação. Até quanto Felipão agüenta no cargo?

Corinthians - O presidente do clube, Mario Gobbi, disse após a eliminação: “É hora de esfriar a cabeça e focar exclusivamente na Libertadores, que será para nós muito apetitoso”. Qual será o sabor? Caldo de frango? Com esse goleiro que tem, talvez seja bom a Fiel ir se acostumando. À comissão técnica alvinegra, resta tentar recuperar o moral do goleiro, que saiu de campo chorando após suas lambanças terem custado a vaga nas semifinais.

Para assistir aos gols dos quatro jogos das quartas-de-finais, clique nos respectivos links:

São Paulo 4 x 1 Bragantino

Santos 2 x 0 Mogi Mirim

Corinthians 2 x 3 Ponte Preta

Guarani 3 x 2 Palmeiras

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Fotógrafo lança livro sobre cultura cigana neste sábado em São Paulo


Rogério Ferrari lança neste sábado, em São Paulo, o livro Ciganos. O trabalho é fruto da itinerância do fotógrafo que, entre 2010 e 2011, percorreu 40 municípios na Bahia registrando a cultura desse povo tão rico quanto perseguido e incompreendido.

O lançamento de Ciganos será também a inauguração de uma exposição no mesmo local, o Centro de Estudos Universais, no Itaim Bibi. A mostra reúne 24 imagens. Na ocasião, um grupo composto pelos músicos Gabriel Levy (acordeon), Martin Lazarov (oboé), Ricardo Zohyo (baixo acústico e bandolim) e Thomas Rohrer (rabeca e sax) irá se apresentar ao vivo, contextualizando a obra de Rogério Ferrari e interpretando temas ciganos inspirados na região dos Bálcans, incluindo músicas da Macedônia, Romênia, Sérvia, Bulgária e outros países.

Nos links abaixo você pode se informar melhor sobre a obra de Rogério Ferrari (quando do lançamento de Ciganos em Salvador, escrevi mais sobre este trabalho). O fotógrafo é também autor, entre outros, do extraordinário trabalho A Eloquência do Sangue, reunião de fotografias feitas na Palestina conflagrada, tema que foi objeto de entrevista que fiz para este blog em dezembro de 2011.

Leia também:

Mais informações sobre o livro Ciganos

Entrevista com Rogério Ferrari sobre trabalho na Palestina

Serviço:
Abertura da exposição e lançamento do livro Ciganos, de Rogério Ferrari
Data: 21 de abril, a partir das 19h
Local: Centro de Estudos Universais
Rua Araçari, 218 – Itaim Bibi – São Paulo / SP
Mais informações pelo tel: 3071-3842 (São Paulo)
www.ceuaum.org.br

Exposição Ciganos
De 22 de abril a 20 de maio
24 imagens em P&B
40cm X 60cm
Horário de visitação: seg. a sex. das 12h às 18h
Grátis

Livro Ciganos
Editorial Movimento Contínuo
196 páginas
R$ 80,00

Libertadores: Santos e Corinthians pegam times sem tradição nas oitavas


Terminada a última rodada da fase de grupos da Libertadores, cinco times brasileiros estão nas oitavas-de-final – só o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho e Vágner Love deu vexame e caiu fora precocemente. Os confrontos que iniciam a fase de mata-mata são os seguintes:

Libertadores 2012 – Oitavas-de-final:

Fluminense x Internacional
Unión Española (CHI) x Boca Juniors (ARG)
Libertad (PAR) x Cruz Azul (MEX)
Universidad de Chile (CHI) x Deportivo Quito (EQU)
Corinthians x Emelec (EQU)
Lanús (ARG) x Vasco
Vélez Sársfield (ARG) x Atlético Nacional (COL)
Santos x Bolívar (BOL)

Obviamente, o grande jogo é Fluminense x Internacional, imprevisível, embora com algum favoritismo do time de Abel Braga contra o Colorado de Dorival Júnior. Fora o clássico Flu x Inter, Santos e Corinthians parecem (parecem) francamente favoritos e o Vasco tem parada aparentemente mais difícil.

O Timão contra o equatoriano Emelec (que ficou em segundo no grupo do eliminado Flamengo) só cai se perder para si mesmo (o que aliás não é incomum em se tratando de Corinthians na Libertadores...) O Santos deve passar com relativa facilidade por mais um boliviano, o Bolívar. E o Vasco pega o argentino Lanús, líder do grupo 2, o mesmo do classificado Emelec e do desclassificado Flamengo.

Boas disputas devem ser Vélez Sársfield x Atlético Nacional e Unión Española x Boca Juniors.


Sonolento, Santos azul acorda no fim e faz 2 a 0 no "Mais Forte"

Foto: Ivan Storti - Divulgação/ Santos FC 
Na estréia de seu novo terceiro uniforme, azul, o Santos fez a típica partida do time que entra em campo com o pensamento de que vai ganhar quando quiser. Só que a retranca do boliviano The Strongest (“o mais forte”, não custa traduzir) somada à indolência santista quase resultou em um melancólico empate na Vila Belmiro.

Mas o 0 a 0 que parecia impossível e ia se concretizando acabou não acontecendo: aos 40 minutos do segundo tempo, Alan Kardec aproveitou cruzamento de Neymar e mandou para as redes, fazendo mais uma vez em poucos minutos o que o centroavante-manteiga Borges não conseguira durante todo o jogo. São insondáveis os motivos pelos quais Muricy Ramalho insiste em manter Borges e deixar Kardec no banco. E 2 minutos depois Neymar, aproveitando passe de Borges (que alguma coisa tinha que fazer), deu números finais ao duelo. Com o gol, ele chegou a 11 e igualou Coutinho entre os maiores artilheiros da história do Santos na Libertadores, ficando atrás apenas de Pelé (com 17) e Robinho (14).

*Veja os gols pela Santos TV (outro ângulo e som da torcida)




O Alvinegro de Muricy tinha muitos marcadores de ofício para enfrentar um fraquíssimo The Strongest: Adriano, Arouca (depois Íbson), Henrique – improvisado na lateral direita –, além de Elano muito fixo e isolado pela direita, quando poderia jogar mais enfiado pela meia. O jovem Felipe Anderson poderia ter entrado muito antes (no lugar de Henrique ou Adriano), mas só adentrou o gramado no fim, para substituir Elano. Tantos marcadores para marcar quem, em um time que só se defendia? Depois de tanto tempo lutar com seu time formado por uma miríade de volantes, Muricy teve uma iluminação e resolveu tirar o lateral Henrique para colocar Alan Kardec, o que até eu do sofá da minha sala teria feito no mínimo meia hora antes. E ainda ficou se vangloriando pela alteração. “Tem hora que a gente tem que se meter no jogo", disse o treinador, como se fosse um gênio.

Observação: o lindo (terceiro) uniforme azul usado pelo Peixe nesta noite na Vila Belmiro não é uma cor escolhida ao acaso: é uma homenagem ao passado remoto do clube: as primeiras cores usadas pelo Santos no ano de sua fundação, em 1912, foram azul, branco e dourado.

*Atualizado às 13:40

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Espírito do Santos (parte 2)


CENTENÁRIO



A geração de Diego e Robinho (2002-2004)


Entre os quatro times que incorporam o que chamo de Espírito do Santos (os de 1958, 1978, 2002 e 2010), o de 2002 vem a seguir ao de 2010-2011, de Neymar e Paulo Henrique Ganso, embora talvez seja tão importante quanto este.

A geração de Diego, Robinho, Elano, Renato, Léo e companhia resgatou a grandeza do time da Vila Belmiro, que desde 1984 não ganhava um título importante, apesar das conquistas de 1997 (Rio-São Paulo) e 1998 (Copa Conmebol). Em 2002, a torcida era mais ou menos dividida em três. Os mais jovens (não era meu caso), como meu filho, então com 18 anos, nunca tinham visto seu time ser campeão e cresceram sob chacotas e humilhações dos rivais. Os mais “experientes”, como eu, não tinham visto o time de Pelé jogar, mas haviam vibrado com os “meninos da Vila” de 1978 e viram os títulos paulistas de 1978 e 1984 – além da mítica equipe de 1995, vice-campeã brasileira. E a geração mais velha, que aprendera a amar o futebol do maior time do mundo, bicampeão mundial, mas não conseguia fugir ao fantasma do passado. 1978/1979, 1984 e 1995 foi tudo de relevante que o Santos conseguiu desde 1973, quando do último título paulista, dividido com a Portuguesa, com Pelé em campo.

(Um parênteses para o time de 1995, cujo símbolo era Giovanni, que protagonizou o antológico 5 a 2 contra o Fluminense, que para muitos santistas foi “o jogo da vida” – não para este escriba. Não fui ao estádio: era aniversário de minha mãe, Leila, que era santista e não está mais entre nós, e assisti na casa dela. Apesar da magia – efêmera –, esta geração é para mim bastante secundária na história, mesmo a recente. Não só pela perda do título no 1 a 1 com o Botafogo no Pacaembu, graças ao apito canalha do árbitro Márcio Rezende de Freitas. O Santos também colaborou: sem o importante volante Gallo, suspenso, o técnico Cabralzinho preferiu montar o time com apenas um volante – Carlinhos –, deixando o experiente Pintado no banco e um meio de campo vulnerável. E havia no elenco um oba-oba preocupante. Tudo isso me deixara com a pulga atrás da orelha. Na final, Giovanni perdeu vários gols inacreditáveis, que não costumava perder, entre os quais um no finzinho do primeiro tempo quase embaixo da trave. Foi quando um jovem torcedor de uns 18 anos nas arquibancadas olhou para mim e disse: “É, velho, quando começa assim...” Conheço santistas que veneram Giovanni, e outros não gostam dele, porque acham que amarelou na final. Não estou nem entre os que veneram o time e Giovanni, nem entre os que execram o jogador. Mas não tenho Giovanni como ídolo e acho que ele de fato tremeu naquele dia. Meu “ídolo” daquele time era o atacante Marcelo Passos. Atribuo a idolatria àquele time à seca e frustração dos torcedores mais jovens que nunca haviam comemorado um título. E assim fecho o parênteses sobre 1995.)

Horizonte sombrio

Em 2002, portanto, o Peixe vinha desse passado recente recheado frustrações e times medíocres ou, pior, horríveis , e 18 anos sem ganhar nada “importante”, após o estadual de 1984.

Quando começou a temporada de 2002, o Santos era considerado pela imprensa um candidato quase certo ao rebaixamento. Essa avaliação ganhou ainda mais consistência após o torneio Rio-São Paulo, em que o Alvinegro terminou em melancólica 9ª colocação e vivia grave crise.

A chegada do comandante

Para o Campeonato Brasileiro, o time tinha contratado Émerson Leão, que recusou a proposta do então presidente Marcelo Teixeira de contratar “medalhões” (política técnica e financeiramente fracassada que já vinha de anos passados). Leão disse que usaria os imberbes meninos que estavam surgindo na base do clube. Uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo de 2003 contou como foi o ambiente no vestiário no dia em que Émerson Leão anunciou ao jovem elenco que eles é que seriam os homens do seu time. Os meninos se entreolhavam com expressões de incredulidade e felicidade, como jovens guerreiros que um experiente general eleva à categoria de soldados capazes de ganhar a guerra.

Elano, Renato e Paulo Almeida, entre outros, antes da chegada do novo treinador, eram atletas colocados entre os que o clube considerava dispensáveis. Leão montou a equipe com os jogadores fracassados que vinham jogando, misturado às jovens promessas. O time era: Júlio Sérgio (Fábio Costa); Maurinho, Alex, André Luiz e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. O atacante William (também da escolinha) e o nem tão jovem meia Robert eram utilizados com freqüência.

E o futebol bonito, ofensivo, repleto de talento e arte apareceu. O goleiro titular durante quase todo o campeonato era Júlio Sérgio, que se contundiu na reta final da competição e deu lugar a Fábio Costa, que se recuperava de grave contusão, e voltou na hora certa, pois foi decisivo para a conquista do título.

O primeiro jogo que me marcou naquela campanha foi a memorável vitória de 4 a 2 sobre o Corinthians no Pacaembu, dia 3 de outubro de 2002, com dois gols de Alberto (um deles um golaço de semi-bicicleta) e dois de Elano. Duas semanas depois, o adversário seria o São Paulo no Morumbi. No dia 16, fui com meu filho Gabriel, então com 18 anos, assistir ao San-São.

Foi um grande jogo. O Santos saiu derrotado, 3 a 2, na partida marcada pelo episódio em que Diego comemorou um dos gols pulando sobre o escudo são-paulino. Mas, apesar da derrota, o sentimento era de satisfação: o time demonstrava que podia ir muito longe.

Em turno único, o campeonato classificava os oito primeiros para disputar os mata-matas. Depois de alguns vacilos nos últimos jogos, o Peixe se classificou na bacia das almas, em oitavo lugar, e pegaria o temível São Paulo, líder absoluto da competição. Definidos os confrontos, lembro que no boteco perto de casa, na esquina das ruas Prof. João Arruda e Cardoso de Almeida, em Perdizes, onde eu morava, um santista comentava desanimado que “não ia dar”. “Pegar o São Paulo... vai ser difícil”, comentou, olhando para a televisão ligada, ao que respondi: “Relaxa, santista. Vamos ganhar!”.

Arrogância são-paulina esbarra em Diego


Naquela semana, num bar em que havia alguns santistas e eu, além de vários são-paulinos à mesa, um deles, que tinha sido inclusive da diretoria do Tricolor, comentou, com a arrogância típica: “Santos? Eu quero jogar é com o Real Madrid”. Mas não deu outra. Na Vila, 3 a 1 para o Alvinegro, em partida memorável em que o São Paulo de Kaká escapou de uma goleada. Diego saiu de campo mancando e um velho são-paulino, parente de minha mulher Carmem, me disse ao telefone: “Esse 10... quem é? Saiu mancando, será que vai jogar na volta?” Eu respondi: “Espero que sim”. E ele, rindo: “Espero que não!”

No jogo de volta, que, junto com uma galera, ouvi pelo rádio, o time do Jardim Leonor precisava de 2 a 0 para ir à semifinal. Fez 1 a 0 logo de cara. E foi um dos jogos em que mais fiquei nervoso em toda minha vida. Mas, apesar da pressão impressionante, o São Paulo acabou levando a virada. Diego e Léo marcaram para o Santos. O grande Tricolor estava desclassificado e guardava sua arrogância no saco.

Depois de eliminar o Grêmio (3 a 0 e 0 a 1), a final era contra o terrível Corinthians, que, com Carlos Alberto Parreira, tinha um ótimo time.

A final com o Corinthians

No jogo de ida, o Peixe bateu o Timão por 2 a 0, em partida memorável de Diego. Na grande final, com melhor campanha, o Timão precisava de um resultado por dois gols de diferença para nos roubar o título. Antes da partida, Gabriel, com ansiedade imensa, comentou: “se o Santos não ganhar esse título, Deus não existe”.

E chegamos ao jogo da minha vida, perto do qual o de 1995 é uma pequena e apagada lembrança. Nada houve de tão grande para mim no futebol antes ou depois daquele maravilhoso 3 a 2 contra o Corinthians na final de 2002. Tive o privilégio de estar lá!, junto com Carmem e Gabriel. O Morumbi abarrotado e literalmente dividido ao meio nas arquibancadas, embora (os corintianos têm dificuldade em admitir isso) na numerada houvesse mais santistas, que formavam então, por isso, maioria.

Quando Robinho deu a histórica pedalada para cima de Rogério, que cometeu pênalti, lembro de Gabriel gritando: “Ele deu!, ele deu!”, pois a marcação de uma penalidade contra o Corinthians numa final parecia um milagre para um jovem acostumado a ver o time roubado. Gabriel, com seus 18 anos, nasceu em 1984, o ano em que o Peixe havia sido campeão pela última vez. Era da geração que crescera sendo humilhado pelos adversários, e nunca vira seu time ser campeão.

(Gols da final - dois últimos gols narrados por Oscar Ulisses)



Após o 1 a 0, a sensação era de que seria muito difícil que o adversário virasse para 3 a 1 e levasse a taça, até porque oferecia o contra-ataque ao um time mortal. Mas Diego, que fizera partida memorável no jogo de ida, saiu logo de cara, contundido.

No segundo tempo, o relógio não andava. Desde o início do jogo, Fábio Costa fazia uma partida milagrosa, com defesas espetaculares. Tenho para mim que, junto com Robinho, Fábio Costa foi o homem a quem os santistas devem agradecer o título. Horas pareciam se passar, mas o jogo não chegava nunca aos 30 minutos. Quando chegou, o Corinthians empatou. E virou aos 40. Lembro de um santista agachado na arquibancada, chorando e dizendo: “De novo não, de novo não!”, como se implorasse aos céus para os quais, porém, não olhava.

Mas aos 43, em jogada que começou com Elano, este serviu Robinho pela direita; o endiabrado e mirrado negrinho cruzou para Elano, que, já na área, mandou para as redes e saiu correndo, levantando a camiseta para mostrar, por baixo, a imagem de Nossa Senhora Aparecida. 2 a 2, mas o Corinthians estava derrotado. E nos estertores dessa partida que mais parecia uma ópera, como disse depois um jornalista, após nova espetacular jogada de Robinho, Léo pegou na entrada da área e fulminou o goleiro Doni. 3 a 2 e o Santos era campeão brasileiro de 2002.

Único time grande a sair de uma longa fila vencendo um campeonato brasileiro, o time de Fábio Costa, Diego, Robinho, Elano, Renato e companhia entrava para a história do futebol.

Em 2004, o elenco perdeu o zagueiro Alex, o volante Renato, o meia Diego e o treinador Émerson Leão, substituído por Vanderlei Luxembrugo, que, com a mesma base, reforçada com o atacante Deivid, sagrou-se campeão brasileiro, agora por pontos corridos.

Leia também: O Espírito do Santos - parte 1: a geração de Neymar e Paulo Henrique Ganso

O Espirito do santos - parte 3: Os Meninos da Vila

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Há 130 anos, nascia Monteiro Lobato


O escritor nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté. Foi criador do magnífico Sítio do Pica-Pau Amarelo, fonte de inspiração e poesia, fantasia e criatividade inigualáveis para quantos o leram.

Quando criança, embora adorasse infinitas brincadeiras, principalmente jogar bola, não era com infelicidade que eu recebia as manhãs chuvosas ao invés das ensolaradas. Assim, podia ficar na cama lendo encantado as aventuras de Emília, Narizinho e Pedrinho, Visconde de Sabugosa, a sabedoria Tia Anastácia, Dona Benta e tantas outras criaturas a encarnar a cultura brasileira.

Minhas férias, então, eram tão mais ricas com as Reinações de Narizinho!

A felicidade era completa quando eu ficava doente, de cama, e além de ler as aventuras, podia faltar na escola e ficar de cama, a ler, e recebendo os cuidados de minha mãe, Leila, como se eu mesmo fosse um daqueles personagens.

Fica então esse singelo registro da efeméride, dos 130 anos do criador desse mundo mágico, fruto da cultura que o escritor incorporou de sua terra e eternizou numa obra imensa, para que os brasileiros nunca a esquecessem. Monteiro Lobato morreu em 4 de julho de 1948, aos 66 anos, em São Paulo.

E eu, apesar de ter lido e me encantado com os personagens e histórias do escritor, não sou e nunca fui racista.

Leia também: Monteiro Lobato, pasmem, é a nova vítima do politicamente correto

terça-feira, 17 de abril de 2012

Cresce o poder político (e social) dos evangélicos no Brasil


A reportagem de capa da revista Fórum deste mês de abril (nas bancas) trata de um tema alarmante: o crescimento da influência religiosa (evangélica) na política brasileira. “Nos últimos meses, os evangélicos têm aparecido cada vez mais no cenário político e nas manchetes dos noticiários, ostentando grande capacidade de interferir nas decisões políticas”, inicia a matéria.

(Não nos iludamos: a capacidade de mobilização política dos evangélicos se evidencia claramente com a simples nomeação, pela presidente Dilma Rousseff, do senador Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca, uma pasta meio de perfumaria, mas, enfim, uma pasta de governo.)

Episódios recentes evidenciam a, digamos assim, pusilanimidade do governo brasileiro diante da influência religiosa contrária ao Estado laico em matérias bem concretas: “a não veiculação de um vídeo de combate à Aids voltado para o público LGBT, os inúmeros obstáculos interpostos ao PLC 122 – que criminaliza a homofobia – no Congresso Nacional” são alguns desses episódios recentes, diz a matéria de Glauco Faria, que traça uma radiografia do crescimento dessa influência a partir de 1985 e o início das táticas do medo para influenciar a agenda da Assembleia Nacional Constituinte, táticas que se valiam de propagandas mentirosas segundo as quais a futura Constituição (promulgada em 1988) legalizaria o aborto, por exemplo –  como aliás vimos repetir-se assustadoramente na eleição presidencial de 2010.

O Deus dos evangélicos é muito prático, por sinal. Valendo-se da permissividade com que historicamente se outorgam concessões de rádio no país, em março de 2006 25,18% (um quarto!) das emissoras de rádio FM das capitais brasileiras eram evangélicas, de acordo com pesquisa citada pela matéria da Fórum. Outro dado interessante é o casamento bem sucedido entre a chamada “nova classe média”em ascensão e o ideário evangélico. O sociólogo Rudá Ricci constata “a emergência, no Brasil, de uma classe C conservadora e vinculada ao consumo e à família. A palavra de ordem é sucesso, e não a mobilização social”, diz Ricci na reportagem.

Em outras palavras: a “lei” atual é a da individualidade, diante da qual o coletivo não vale nada.


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Cabe ressaltar, de minha parte, que não tenho, particularmente, nada contra qualquer religião. Pelo contrário, são os fundamentalistas religiosos que não aceitam a diferença. A intolerância é bastante visível e assustadora na realidade brasileira, no cotidiano das pessoas.

Matéria da Folha de S. Paulo de 3 de abril relata um fato comum, e algo semelhante provavelmente está acontecendo no momento mesmo em que você lê este post.

“Uma professora de geografia de uma escola estadual de Minas Gerais resolveu iniciar as suas aulas rezando o pai-nosso com todos os alunos. Um deles, ateu, decidiu manter-se em silêncio.

“Ao notar a reação do estudante, ela lhe disse, segundo o relato do aluno, que ‘um jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida’. O aluno se irritou, os dois discutiram, e o caso foi parar na diretoria da escola.”

Segundo a matéria da Folha, Ciel Vieira, de 17, que discutiu com a professora, afirmou à reportagem: "Eu disse que o que ela fazia era impraticável segundo a Constituição. E a professora disse que essa lei não existia".

Já matéria de Terra Magazine de novembro de 2011 informava o que todos sabemos: que terreiros de religiões “de matriz africana” do bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador (BA), protestavam “contra a intolerância” e “contra os ataques de igrejas neopentecostais” a cultos como candomblé. “Nas rádios, eles nos atacam todos os dias e todas as horas. Não sou cão, não sou demônio, como eles dizem. Os neopentecostais são mais radicais. A gente quer respeito. Não invadimos as atividades deles”, protestou a Yalorixá Valnizia de Ayra, do Terreiro do Cobre, de acordo com a matéria de Terra Magazine.

Se a nação brasileira é constituída de Executivo, Legislativo e Judiciário, ao que parece apenas este último, via Supremo Tribunal Federal, tem cumprido a sua parte na manutenção do Estado laico conforme determina a Constituição de 1988, como têm mostrado os julgamentos da Suprema Corte: Anencefalia: mais uma vez, STF decide contra o obscurantismo

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Paulistão chega às quartas-de-final. Dos grandes, só o Palmeiras não é favorito. E a Lusa já era

Atualizado às 15h30 - 17/04/2012

Depois de 19 rodadas, a pré-temporada chamada Campeonato Paulista de futebol chega às quartas-de-final com oito classificados e os seguintes confrontos no próximo fim de semana:

Sábado
São Paulo (2°) x Bragantino (7°) - 18h30

Domingo
Corinthians (1° lugar) x Ponte Preta (8°) - 16 horas
Santos (3°) x Mogi Mirim (6°) - 16 horas
Guarani (4°) x Palmeiras (5°) - 18h30

Corinthians, São Paulo e Santos são francamente favoritos, mas a Macaca, o Braga e o Mogi podem surpreender. Isso por causa do regulamento sem-vergonha da competição: 19 rodadas que no final das contas valeram quase nada. Nas quartas, em um jogo só, os quatro mandantes só têm a vantagem de jogar em casa. Em caso de empate, a decisão vai para os pênaltis.

Na última rodada da fase de classificação, o líder Timão bateu a mesma Ponte Preta que pagará nas quartas por 2 a 1 em Campinas; o Tricolor perdeu do Linense de 2 a 1 em Lins; e o Santos meteu 5 a 0 na Catanduvense (rebaixada) na Vila Belmiro.

Dos muitos gols da rodada, reproduzo abaixo apenas o mais importante. O gol de Paulo Henrique Ganso, o primeiro dos cinco que o Peixe enfiou no time de Catanduva. Porque é um gol-símbolo: o gol do centenário, o primeiro após 100 anos de existência. Um golaço, como de propósito a incorporar a magia e o espírito do agora centenário Santos Futebol Clube.



O confronto Guarani x Palmeiras pelas quartas-de-final é o que não tem favorito, teoricamente. Mas as agruras eternas por que passa o Alviverde da capital não o credenciam a bater o Bugre em Campinas. Onde, aliás, no último 8 de abril, o time de Luiz Felipe Scolari perdeu do mesmo Guarani por 3 a 1 inapelavelmente. Scolari que foi hoje xingado de “burro” por parte da torcida palmeirense presente ao Pacaembu, onde o Verdão não passou de um sofrido 2 a 2 contra o já rebaixado e lanterna do campeonato Comercial. Detalhe: o Palmeiras teve 11 jogadores contra nove durante quase todo o segundo tempo. Outro detalhe: torci para o tradicional Comercial cair, pela violência com que esse timinho enfrentou o Santos na quarta-feira de cinzas.


E a Lusa…

A Portuguesa de Desportos mais uma vez mostra que sua tendência é se apequenar mais e mais, apesar de ter subido para a série A do Brasileiro. Cair para a segunda divisão do fraquíssimo Paulistão é demais. O time do Canindé vive uma decadência parece que inexorável. Precisava de um mero pontinho contra o Mirassol fora de casa, mas, como tomou 4 a 2 no lombo, acabou ficando atrás de XV de Piracicaba e Botafogo de Ribeirão Preto, caindo para a segundona do estadual.

A Lusa parece não ter chance de se manter na elite do Brasileirão em 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Espírito do Santos (parte 1)



CENTENÁRIO



Fotos: Ricardo Saibun (Neymar) e Reprodução
As quatro geraçôes: Juary, Pelé, Neymar e Robinho


Introdução e o time de Neymar

Neste sábado, 14 de abril, o Santos Futebol Clube completa 100 anos. Para marcar a data, escrevi um ensaio que publicarei aqui em quatro partes, a partir desta sexta-feira e nas próximas três quintas, dias 19 e 26 de abril e 3 de maio de 2012.

Um amigo aconselhou-me a registrar este trabalho, a partir de seu título (O Espírito do Santos), na Fundação Biblioteca Nacional. Estou seguindo esse conselho, já que no futuro talvez venha a publicá-lo em livro, possivelmente com um desenvolvimento maior.

Este ensaio não se propõe a falar da história do Santos F. C de um ponto de vista estatístico/historiográfico, tarefa importante mas pouco literária e não tão apaixonante. E, de resto, números e estatística não faltam - o que uma simples busca no Google demonstra.

A ideia é fazer um recorte. Algo que seja também simbólico e significativo, eu diria espiritual, na história do clube fundado em 14 de abril de 1912, segundo seu site na internet, “por iniciativa de três esportistas da Cidade (Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior).

Uso a palavra espírito deliberadamente, para caracterizar uma espécie de “reencarnação” desse futebol que se confunde com a arte, do futebol moleque, do futebol ousadia – termo este consagrado por Neymar.

Espírito que se manifestou essencialmente em quatro gerações santistas:

A dos anos 1960, de Pelé, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, mas que começou a se configurar em meados de 1950, exatamente em 1956, quando o menino Pelé chegou à Vila levado por Waldemar de Brito.

Que se manifestou em 1978, naquela esquadra conhecida pela mortal linha de frente com Nilton Batata, Juary e João Paulo, um time que também tinha no meio de campo feras como Ailton Lira, Clodoaldo e Pita, mas que me marcou menos porque foi um time muito efêmero, embora à época, adolescente, eu não perdesse os clássicos no Morumbi (onde o São Paulo era freguês) que disputavam os então chamados “meninos da Vila”.

Em 2002, com o time que levantou os Brasileiros de 2002, tirando o Alvinegro de uma fila de 18 anos sem um “título importante”, e 2004, e teve nos meninos Robinho e Diego os porta-estandartes a carregar a bandeira do espírito do Santos, embora Diego não tenha permanecido até o fim da temporada de 2004.

E que se manifesta agora, na geração de Neymar e Ganso, cuja história ainda está sendo contada.

As quatro gerações que representam o Espírito do Santos em toda sua história têm em comum um outro dado relevante: todas foram frutos de apostas na base, a alma do clube. Os símbolos negros dessas quatro gerações que construíram a lenda dos meninos da Vila são Pelé, Juary, Robinho e Neymar. Claro que os gigantes das conquistas foram muitos: Gilmar, Mauro Ramos de Oliveira, Ramos Delgado, Zito, Pepe, Clodoaldo, Edu, Cejas, Ailton Lira, Rodolfo Rodriguez, Elano, Fábio Costa, Renato e incontáveis outros. Citar nomes no caso do Santos é ser injusto, porque em qualquer lista sempre haverá muitos esquecidos. No caso do time de 1978, aliás, Juary nem era o principal jogador do time, cujos maiores craques estavam no meio de campo: Clodoaldo, Ailton Lira e Pita.


A geração do Rey

Foto: Ricardo Saibun/Santos FC


Se a geração de Pelé foi a mais importante, pois introduziu o clube definitivamente no rol dos grandes do país e do mundo, a de Neymar já alcança também níveis elevados. Existem curiosas coincidências na história do Santos. Por exemplo: lá, jogou o Rei. E depois de 48 anos, com os santistas já cansados da ladainha dos adversários (“ o Santos ganhou a Libertadores quando era com bola de capotão”, ouvi certa vez), eis que surge outro menino, Rey, que rima com mar e com futebol arte (como observou o santista Gabriel Megracko em comentários neste blog que não sei em que posts estão), que os invejosos, os colonizados e os intere$$ados (como um certo “Fenômeno”) querem ver na Europa. E eis que o time finalmente ganha a Libertadores, entrando na galeria aonde tantos queriam ter chegado e não chegaram, alcançando o tricampeonato, após os longínquos títulos de 1962 e 1963. Por isso a geração de Neymar (mas essencialmente ele) é grande: desfez um mito, um tabu: o de que a Libertadores não seria mais possível, para o Santos, depois de Pelé e da bola de capotão.

E por isso esta série (que não será publicada em ordem cronológica, mas segundo a importância que cada um dos quatro times teve para mim) começa com a geração bicampeã paulista (2010 e 2011), campeã da Copa do Brasil (2010) e da Libertadores (2011). Esse time vitorioso teve variações no elenco de 2010 para 2011. As saídas importantes foram a de André e Robinho do elenco de 2010 (quando o Santos era mais ofensivo, jogando a maioria das partidas com três atacantes) – Robinho que, voltando da Europa, foi, como é Léo, um remanescente da geração anterior. Nem Zé Eduardo nem, depois, Borges são tão bons na companhia de Neymar quanto foi André, das divisões de base. O ótimo Wesley também deixou o time mas foi substituído por Elano, que jogou bem no primeiro semestre de 2011, mas mal no segundo. No gol, ganho de qualidade, com a saída de Felipe para Rafael assumir o posto (o atual titular é um bom goleiro, mas muito longe das lendas Cejas – anos 1970 – e Rodolfo Rodriguez – anos 1980). Na lateral direita, com Danilo no lugar de Pará, houve melhora, mas Danilo foi vendido e o time ficou mais frágil na posição, com Fucile.

Reverência: da geração anterior, Robinho "engraxa" a
chuteira de Neymar – Foto: Ricardo Saibun/Santos FC
Essas foram as mudanças básicas do time campeão em 2010 com Dorival Júnior, que era avassalador no ataque (foi campeão estadual com 72 gols a favor e 31 contra) mas extremamente vulnerável na defesa, para a triunfante equipe de Muricy Ramalho, que não joga tão bonito mas é mais equilibrada. Um jogador dessa geração que não pode faltar aqui é o muito criticado Pará, hoje no Grêmio. Limitado, sim, mas com o qual boa parte dos santistas são ingratos, pois ele esteve em campo em todos os quatro títulos conquistados no período, sempre com seu aguerrimento e pronto para atuar nas duas laterais ou como volante.

Os jogos mais marcantes dessa geração, para mim, foram dois: a derrota de 3 a 2 para o Santo André em 2 de maio de 2010, quando, comandado por Paulo Henrique Ganso e reduzido a oito jogadores em campo contra dez do Ramalhão, o Peixe conquistou seu 18° título paulista. Esse vi pela TV. O outro – em que, com Carmem, Gabriel e Gisely, eu estava no Pacaembu – foi Santos 2 x 1 Peñarol, quando o Alvinegro levantou o tricampeonato da Libertadores, no inesquecível 22 de junho de 2011. Foram duas alegrias inigualáveis. Na final do Paulistão, com o coração quase saindo pela boca, abandonei o pessoal na sala no finalzinho e não vi a bola que o time do ABC mandou na trave nos estertores do espetáculo; na da Libertadores, a emoção de ser tricampeão da América parecia um sonho com o lindo mar branco tomando o Pacaembu.

Ganso e a final contra o Santo André

Perguntado por um repórter na semana do centenário qual foi o jogo mais marcante em sua carreira, Paulo Henrique Ganso respondeu de bate-pronto: a final do Paulista contra o Santo André em 2010. Não à toa. Além da partida magistral, ele protagonizou duas cenas inéditas e espetaculares: 1) já com oito em campo, o time era pressionado pelo Santo André, que se fizesse o quarto gol seria campeão. O camisa 10 bate um escanteio apenas encostando na bola, sai dela e fica esperando os adversários entenderem que ele estava apenas ganhando tempo e 2) no fim do jogo, o treinador resolveu tirar Ganso de campo para fechar o time (como se isso fosse possível com oito jogadores) e o meia se recusou a sair. Ele sabia que, segurando a bola, faria o tempo passar e o título viria. E assim foi.

O time campeão paulista de 2010: Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Rodrigo Mancha, Arouca, Marquinhos e Paulo Henrique; Neymar (Roberto Brum) e Robinho (André) (Bruno Aguiar).

Capitão Edu Dracena levanta Libertadores
Foto: Ricardo Saibun
Em 22 de junho de 2011, com gols de Neymar e Danilo, o Santos bate o Peñarol do Uruguai e conquista finalmente o cobiçado título continental pela terceira vez. O time jogou com Rafael; Danilo, Edu Dracena, Durval e Léo (Alex Sandro); Adriano, Arouca, Elano e Paulo Henrique Ganso (Pará); Neymar e Zé Eduardo. Relembre aqui: Glorioso alvinegro praiano de Ganso e Neymar é tricampeão da Libertadores

A geração de Ganso e Neymar deve muito ao presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o popular Laor, que ao assumir em 2010 prometeu em uma entrevista que, a partir dali, só jogariam no Santos os que suassem a camisa, demonstrassem amor pela camisa ou pelo menos fossem dignos do grande Santos (no ano anterior, com Vanderlei Luxemburgo, o Peixe era um time sem alma). Com uma gestão profissional, o mandatário manteve o astro Neymar, resistindo ao assédio dos poderosos Chelsea, Real Madrid e Barcelona. Algo inédito no futebol brasileiro até então.

Leia também:

O Espírito do Santos - parte 2: A geração de Robinho e Diego

O Espirito do santos - parte 3: Os Meninos da Vila

Anencefalia: mais uma vez, STF decide contra o obscurantismo


Não tive tempo de postar antes sobre a histórica votação do STF que, nesta quinta-feira, 12, por 8 votos a 2, literalmente tirou o aborto (vamos descartar o eufemismo) do Código Penal em casos de anencefalia. Votaram a favor da tese vencedora e contra o obscurantismo medieval, tese defendida desde o início pelo relator Marco Aurélio de Mello, os ministros Rosa Maria Weber, Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Carlos Ayres Britto, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Cézar Peluso e Ricardo Lewandowski foram os votos vencidos. Dias Toffoli não votou, por ter atuado no caso como advogado-geral da União.

Esse julgamento é o terceiro de capital importância do STF nos últimos quatro anos a confirmar auspiciosamente um mandamento básico da Constituição de 1988: aquele segundo o qual o Brasil é um Estado laico. O primeiro foi o de maio de 2008, quando a “Suprema Corte” aprovou as pesquisas com células-tronco embrionárias no país. O segundo foi o reconhecimento, por 10 votos a zero, da união homoafetiva, exatos três anos depois, em maio de 2011.

Dos votos que pude acompanhar, tirando o do relator, achei muito bom o do ministro Luiz Fux. Ele ressaltou algo elementar, embora as mentes mais retrógradas (por ignorância ou má-fé) insistam em condenar: descriminalizar a "interrupção terapêutica de gravidez" (um eufemismo) em casos de anencefalia não quer dizer que a mulher que quiser ter um filho sem cérebro não possa tê-lo. Mas não se pode levar às barras do tribunal aquela que quiser optar por não ter, que não quiser passar por esse “terrível sofrimento”.

Luiz Fux disse algo forte em seu voto: os que condenam a opção legítima de uma mulher não querer ter um filho (natimorto) anencéfalo geralmente são pessoas cujos filhos e netos são bonitos e saudáveis. Esse foi um dos pontos altos de todo o julgamento. “A questão deve ser tratada como política de assistência social”, disse Luiz Fux, e não como uma questão penal.

É preciso reconhecer que, nos julgamentos em que tem sido chamado a resolver questões que contrapõe Estado laico versus moral religiosa, o Supremo tem dado respostas cabais a favor de uma sociedade menos estúpida e menos obscurantista.

Na questão do aborto propriamente dito, a batalha vai ser muito, mas muito mais difícil.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Voto de Marco Aurélio é contundente: "Gestação de anencéfalo assemelha-se à tortura"

 
Foto: Elza Fiúza/ABr
O ministro relator, ao fundo, à esquerda

Eu ia esperar o fim do julgamento do Supremo Tribunal Federal da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54 para postar aqui. Mas o voto do relator, Marco Aurélio de Mello – a favor da descriminalização da interrupção da gravidez nos casos de anencefalia – merece um post à parte, pois é brilhante. Na verdade, reflete o que se espera da mais alta corte do país, cujo dever é zelar pela constitucionalidade das leis de um país laico. E, afinal, como ele próprio lembrou: “Não cogitamos sequer de aborto [no julgamento] mas de interrupção terapêutica de gravidez”.

O voto do relator é cabal. “O Estado brasileiro é laico”. Mais do que cabal, é contundente em algumas passagens. Por exemplo, quando diz: “O ato de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a em uma espécie de cárcere privado em seu próprio corpo, desprovida do mínimo essencial de autodeterminação e liberdade, assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido”.

Afirmou ainda: "Hoje é consensual no Brasil e no mundo que a morte se diagnostica pela morte cerebral. Quem não tem cérebro não tem vida", disse.

Pode-se criticar ou falar o que quiser de Marco Aurélio, mas seu voto e relatório (eruditos como sempre) são históricos, e vamos esperar que o STF, ao final, acabe com a hipocrisia que ronda o tema desde 2004, quando o caso chegou ao tribunal. O ministro lembrou a grande Simone de Beauvoir (autora do monumental O Segundo Sexo, considerado a bíblia do feminismo) em sua argüição: “Simone de Beauvoir já exclamava ser o mais escandaloso dos escândalos aquele a que nos habituamos”.

Leia algumas passagens do voto de Marco Aurélio (o link com a íntegra de seu voto está abaixo neste post):

“A garantia do Estado laico obsta que dogmas de fé determinem o conteúdo de atos estatais. Concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias, não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada.”

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

“Não cabe impor às mulheres o sentimento de meras ‘incubadoras’ ou, pior, ‘caixões ambulantes’, na expressão de Débora Diniz. Simone de Beauvoir já exclamava ser o mais escandaloso dos escândalos aquele a que nos habituamos. Sem dúvida. Mostra-se inadmissível fechar os olhos e o coração ao que vivenciado diuturnamente por essas mulheres, seus companheiros e suas famílias.”

“Atuar com sapiência e justiça, calcados na Constituição da República e desprovidos de qualquer dogma ou paradigma moral e religioso, obriga-nos a garantir, sim, o direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor de tornar-se ré em eventual ação por crime de aborto.”

“Franquear a decisão à mulher é medida necessária ante o texto da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também conhecida como “Convenção de Belém do Pará”, ratificada pelo Estado brasileiro em 27 de novembro de 1995, cujo artigo 4º inclui como direitos humanos das mulheres o direito à integridade física, mental e moral, à liberdade, à dignidade e a não ser submetida a tortura. Define como violência qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada.”

“Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado na inicial, para declarar a inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos artigos 124, 126, 128, incisos I e II, do Código Penal brasileiro.”

Após o resultado (esperemos que majoritariamente seguindo o voto do relator), postarei outro texto no blog.

Leia a íntegra do voto de Marco Aurélio de Mello neste link: Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54 - Distrito Federal

terça-feira, 10 de abril de 2012

Se revista Veja não for convocada, CPMI
não terá sentido


Com as voltas que a vida dá, parece certa a criação da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar o esquema montado pelo “empresário” Carlinhos Cachoeira e desmontado pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.

Os presidentes da Câmara e do Senado, deputado Marco Maia (PT-RS) e senador José Sarney (PMDB-AP), respectivamente, decidiram pela criação da CPMI, diz a Agência Brasil.

Se esse fantasma que entrou para a história conhecido como mensalão (e que aliás virou uma espécie de histeria coletiva no twitter agora há pouco) vai se esclarecer com todos os pingos nos "is", tudo vai depender de como se conduzirá a CPMI. O que parece é que, a partir do desmonte do esquema Cachoeira, o mensalão já pode objetivamente ser considerado como farsa.

Porém, o que mais importa saber é se os representantes da revista Veja serão convocados a depor. Se não forem, a farsa continuará mal resolvida e a CPMI será para inglês ver. Por isso a notícia mais importante deste 10 de abril é a postada agora há pouco no R7:

“O deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) defendeu nesta terça-feira, 10, que o empresário Roberto Civita, proprietário da Editora Abril, seja convocado para depor na CPMI que será instalada no Congresso para investigar as ligações entre parlamentares, integrantes do judiciário e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela operação Monte Carlo da Polícia Federal.", diz a matéria.

Isso porque, segundo o deputado, a revista tem de “prestar esclarecimentos sobre essa ligação estreita entre ela e esse elemento. Pretendo ser um dos membros dessa CPMI, e essa é a minha manifestação. É natural que se coloque para falar alguém representando uma revista que teve 200 ligações com esse elemento para que se explique”.

Fernando Ferro se refere aos incontáveis telefonemas (fala-se em 200) de Cachoeira para o diretor da revista da Abril em Brasília, Policarpo Júnior.

Se Veja não for convocada e não ficar no centro do picadeiro onde se acostumou a colocar quem bem entende, a CPI não terá nenhum sentido. Ponto.

A matéria do R7 está aqui.

Congresso Nacional vive polvorosa em homenagem ao centenário do Santos


De A Tribuna online: “Com direito a recepção em tapete vermelho, tumulto na chegada e assédio dos fãs, o Santos foi homenageado nesta terça-feira na Câmara dos Deputados, em Brasília, pelo centenário do clube, que será completado no próximo sábado.


Congressistas engrossam coro de tietes do astro

“O Plenário Ulysses Guimarães estava lotado de funcionários, políticos e muitos torcedores. A comitiva do Santos foi formada pelo presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, pelo vice Odílio Rodrigues Filho (...) Entre os jogadores, Neymar, Ganso, Edu Dracena, Arouca, Rafael e o ex-jogador Pepe fizeram parte da solenidade. Pelé era esperado, mas não compareceu ao evento”.

Já segundo o Uol, funcionários e parlamentares “lotaram o plenário e se empurraram para conseguirem [sic] um autógrafo ou uma fotografia com os astros Neymar e Paulo Henrique Ganso. O tumulto foi tão grande que os dois precisaram se esconder em um restaurante anexo até o início da homenagem (...) Normalmente vazio nas manhãs de terça-feira, o plenário tinha mais de 600 pessoas, de acordo com um segurança, para a sessão solene. Funcionários, em seu horário de trabalho, esperaram longamente, pela chegada dos jogadores e trouxeram filhos e parentes para assediá-los”.

A homenagem aconteceu no final da manhã desta terça-feira, 10 de abril. Não vou nem comentar por enquanto. Mais perto do fim da semana postarei no blog sobre o dia 14 de abril, data em que o glorioso Santos Futebol Clube festeja os 100 anos de sua fundação.