terça-feira, 1 de maio de 2012

O Espírito do Santos (parte 3 - Os Meninos da Vila)


CENTENÁRIO

No momento em que parcela da torcida santista protesta pela marcação das finais do Campeonato Paulista de 2012, contra o Guarani, para o estádio do Morumbi, e não na Vila Belmiro, me parece oportuno publicar a parte 3 da série O Espírito do Santos, em homenagem ao centenário do clube (os links dos outros posts estão abaixo deste texto). É que esta tem muito a ver com o estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Com 29 gols, Juary foi o artilheiro do Paulistão de 1978/79

(Apenas um parênteses: dois exemplos recentes e significativos de público pífio do Peixe na Vila Belmiro: 1) Santos 1 x 0 Corinthians em 4/3/2012 - Público: 12.818. 2) Santos 0 x 0 Corinthians 10/08/2011 - Público: 9.714 pagantes. Desse ponto de vista, está mais do que justificada a marcação das finais no estádio do São Paulo. E, como divulgou sua assessoria de imprensa, o clube já conquistou cinco títulos paulistas no Cícero Pompeu de Toledo, um campeonato Brasileiro (2002) e ainda o primeiro título da história do Morumbi, ainda em 1969, após um 0 a 0 com o São Paulo – título que foi, aliás, o último tricampeonato paulista da história, feito que pode se repetir em 2012.)

Muito bonita, aliás, a homenagem feita pelo craque Neymar no último domingo, quando, ao marcar um dos gols na vitória de 3 a 1 sobre o São Paulo que levou o Peixe à final do campeonato, comemorou ao estilo Juary, em torno da bandeirinha de escanteio. Como diria Milan Kundera, Neymar tem a inspiração da imortalidade, pois não ignora nem a história nem o futuro.

Em 1978 eu tinha 17 anos e, na época do time dos Meninos da Vila, o Peixe disputava muitos clássicos no “maior estádio particular do mundo”, como se dizia na época. Eu não perdia um. E foi dando show atrás de show que o Alvinegro sagrou-se pela primeira vez campeão após a era Pelé. Como na última década, o time da Vila fez então do São Paulo freguês dentro de seu próprio campo em jogos decisivos.

Chico Formiga
Mas, voltando à parte 3 da série, o time de 1978 talvez tenha sido, dos quatro times que encarnam o Espírito do Santos (anos 50/60, 1978, 2002 e 2010/2011), aquele que eu mais vi jogar no campo. Não perdia chance de ver o infernal time de Clodoaldo, Pita, Ailton Lira, Nilton Batata, Juary e João Paulo, uma máquina de contra-ataques letais – muitas vezes acompanhado do meu irmão palmeirense Paulo. Por falar de irmão palmeirense, a asa negra histórica chamada Palmeiras se manifestou naquela temporada: como o time de Robinho e Diego, a esquadra de Nilton Batata, Juary e João Paulo não derrotou o Alviverde: foram três jogos na competição e três vitórias palmeirenses: 2 a 0 e duas vezes 2 a 1 (na era Pelé, o Peixe teria conquistado doze campeonatos paulistas seguidos se o Palmeiras não houvesse levantado a taça em 1959, 1963 e 1966).

Mas aquele grande time de 1978, infelizmente, entre os de que trato nesta série, foi o mais efêmero e desmontou-se rápido após o título paulista de 1978/79, num campeonato interminável com turno, returno, terceiro turno, mata-matas para decidir cada turno (a competição começou em 20 de agosto de 1978 e terminou em 28 de junho de 1979!). Em 1980, Ailton Lira foi para o São Paulo, enquanto Juary e Nilton Batata se transferiram para times mexicanos.

Seja como for, comandado por Chico Formiga, o Alvinegro daquela geração surpreendeu os rivais. Na época, o Campeonato Paulista era muito mais valorizado do que hoje.

Como viria a acontecer em 2002, ou 24 anos depois, o clube em 1978 estava sem recursos, sem ganhar um campeonato importante havia algum tempo (cinco anos depois do título dividido com a Portuguesa, o último da era Pelé) e teve de recorrer aos jovens de sua base.

Nilton Batata, Juary e João Paulo formando a linha de frente apoiada por um meio de campo magnífico com Clodoaldo e o craque Ailton Lira, o time contou ainda com o raro talento de um jovem meia canhoto vindo da base e que ficou na história: o camisa 10 Pita.

Como disse, vi muitos jogos desse time no Morumbi. E foi na casa do São Paulo que o Peixe vencia o Tricolor e dele fazia seu maior freguês na temporada. Foram sete clássicos San-São naquele Paulistão, com três vitórias do Alvinegro, duas do São Paulo (sendo que uma de nada valeu, pois o Santos foi campeão mesmo perdendo a partida) e dois empates.

Eu estava no campo quando o Alvinegro conquistou o Paulistão, de maneira não muito empolgante, pois justo na decisão o time do Jardim Leonor venceu por 2 a 0, resultado que ainda não lhe dava o título. Pelo regulamento (o Peixe tinha melhor campanha), precisava vencer também a prorrogação. Mas esta acabou 0 a 0. Era 28 de junho de 1978. Eu via pela primeira vez meu time ser campeão in loco, num estádio. Curiosamente, como meu filho Gabriel, que viu o time da Vila sair da fila em 2002, eu tinha então 18 anos.

Naquela quinta-feira, 28 de junho de 1979, desfalcado de Ailton Lira e João Paulo, além do zagueiro Joãozinho, o Santos de Chico Formiga atuou com Flávio; Nelsinho, Antonio Carlos, Neto (Fernando) e Gilberto Sorriso; Toninho Vieira, Zé Carlos e Pita (Rubens Feijão); Nilton Batata, Juary e Claudinho.

Leia também:

O Espírito do Santos (parte 1 - a geração de Neymar)

O Espírito do Santos (parte 2 - a geração de Diego e Robinho)

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