sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Occupy Wall Street contra o Tea Party
e o dedo de Al Gore


Reprodução
Saudemos o movimento Occupy Wall Street. Porque é uma reação ao Tea Party. E o combate aos dobermans da ideologia deve ser sistemático e incessante.

Mas o sentimento de euforia não pode ocultar o fato de que nada acontece nos Estados Unidos por acaso. Há pouco mais de dois meses, Al Gore – o democrata derrotado por George W. Bush nas eleições de 2000 – deu entrevista a um programa semanal importante de atualidades políticas, chamado Countdown, do apresentador Keith Olbermann, em que disse isso: “Nós precisamos ter uma primavera americana. Uma mudança não violenta, onde as pessoas das bases voltem a se envolver. Não no estilo do Tea Party. Há pessoas sinceramente aborrecidas com o Tea Party”, disse Al Gore na entrevista, que foi ao ar em 2 de agosto de 2011.

Al Gore, que não é bobo, já se posicionava então como liderança de um movimento de oposição àquele “financiado com o dinheiro semeado pelos bilionários de extrema-direita”, segundo suas palavras. E, claro, usando muito bem a idéia da primavera árabe que seduziu o mundo pouco antes.

E o democrata não ficava por aí. Citou a Fox News como um dos instrumentos que possibilitaram a criação dessa “agenda de direita”. A entrevista de Gore de dois meses atrás foi divulgada pela Current TV, canal de televisão independente dirigido pelo próprio Al Gore e pelo empresário Joel Hyatt.

O desencadear do movimento Occupy Wall Street como contraposição ao truculento Tea Party é auspicioso. Até porque, simbolicamente, confirma a terceira lei de Newton (desculpem a analogia), segundo a qual a toda ação corresponde uma reação. Mas é também necessário reconhecer – sob a premissa de que nada na chamada América do Norte se dá por acaso – que em tudo isso tem no mínimo um dedo de Al Gore. Ou seja, de parte significativa do establishment dos Estados Unidos. O que é uma evolução, considerando que Bush foi eleito graças a financiamento pesado da indústria armamentista norte-americana.

Em benefício do otimismo, e contra meu ceticismo (motivado por tragédias como a da Palestina), é importante dizer que, na velocidade da história hoje (Paul Virilio), com a aliança movimentos sociais + internet, as coisas podem estar mudando até mesmo nos Estados Unidos da América, oprimidos por uma crise econômica que não tem precedentes nem em 1929, porque a de hoje é mais profunda e global.

Ao ver a revolta nos EUA, não consigo tirar da cabeça a imagem (talvez arbitrária?) desses meninos dos condomínios que há por aí, meninos e meninas que, com 11, 12, 13 anos, não sabem sequer atravessar uma rua, pegar um ônibus, conversar com um mendigo, e quando vivem essas experiências é como se fizessem uma revolução.

Espero sinceramente que a “primavera americana” seja um pouco mais do que um movimento de reacomodação das insatisfações pequeno-burguesas dos Estados Unidos. Algo Anonymous, espontâneo, concreto. Até acho que pode ser, porque quando Barack Obama disse “Yes, We can”, muitos lá acreditaram, e talvez não estejam a fim de deixar de acreditar.

Para acessar a página do movimento, clique neste link: Occupy Wall Street

4 comentários:

Mayra disse...

Edu, que sacada a sua! Mas acho que é mesmo uma via de mão dupla: o Al Gore sacou o movimento e tenta se encaixar como uma liderança possível - vivemos isso recentemente aqui com o Serra encampando a voz gritante do povo das sombras, lembra? Talvez uma das coisas mais significativas desse momento nosso seja justamente a inexistência de lideranças individuais - ou a descrença nelas em alguns lugares, a gente não pode esquecer que a nossa querida América do Sul vai na contramão disso com Lula, Chavez, os Kischner, Evo Morales para citar os mais famosos. As ideias estão mais pulverizadas, mais sem dono, mais internéticas mesmo, com uma autoria difusa, sem nome, sem uma cara definida. Não deixam de ser ideias, claro, a primavera árabe que o diga, mas a falta de liderança política é eloquente. Ainda não identifico direito o que isso significa.

Eduardo Maretti disse...

É verdade, Mayra, "as ideias estão mais pulverizadas, mais sem dono, mais internéticas mesmo, com uma autoria difusa, sem nome, sem uma cara definida".

A antiga forma de liderança política de movimentos está perdendo ou já perdeu o sentido.

Acho que precisamos prestar atenção, porque sempre os "donos do poder" vão tentar se apropriar e instrumentalizar aquilo que nasce espontaneamente.

Sérgio disse...

Edu
eu sei que é um movimento em que temos lá os sindicatos, estudantes e parte dos 99% de americanos que estão realmente indignados com o sistema. Mas quando vejo eleitores de Ron Paul ao lado de Michael Moore eu me assusto um pouco. Será que essa turma de indignados não está servindo de massa de manobra das raposas da direita cristã? Pode ser preconceito meu sim mas é que o ataque ao FED me lembra um pouco Zeitgeist...e também acho que o Tea Party está adorando tudo isso.

Eduardo Maretti disse...

Sérgio, tenho dúvidas sobre isso, que o Tea Party esteja "adorando tudo isso". Acho até que não, porque o Tea Party – assim como os grupos obscurantistas que se manifestaram nas eleições brasileiras de 2010 (que José Serra abraçou e que neste blog a gente chamou de o "povo das sombras") –não suporta a democracia, embora viva dela. Há uma crise financeiro-econômica global cujas consequências são neste momento imprevisíveis, e ano que vem tem eleição para presidente nos EUA. Nem os maiores especialistas podem dizer hoje o que ocorre nos intestinos da América, como dizem nos filmes de faroeste.

Sobre o Zeitgeist, acho um filme interessante porque provoca a reflexão sobre muitas supostas "verdades", as verdades oficiais.

Apenas o que me parece questionável no filme é a premissa de que tudo é mentira. Acho que a história não é tão linear, tão simples, ela é mais dialética do que querem fazer supor as versões oficiais ou a versão de Zeitgeist.

Não sei, vamos ver os desdobramentos...