terça-feira, 30 de março de 2010

Devassa continuará proibida

O Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) manteve nesta terça-feira, 30, a proibição da veiculação da propaganda da cerveja Devassa na TV. O comercial havia sido tirado do ar liminarmente no início de março. A propaganda foi autorizada a ser transmitida pelo rádio. No julgamento desta terça-feira, 30, 12 conselheiros mantiveram por unanimidade a decisão anterior.

A Devassa é fabricada pela Schincariol. Na propaganda da agência Mood, a socialite Paris Hilton é fotografada por um voyeur em cenas sensuais enquanto desfila com a lata de cerveja.

As polêmicas continuam as mesmas.

1) seria procedente a alegação que pipocou aqui e ali de que a proibição atenderia interesses da AmBev, “maior cervejaria da América Latina e 4ª maior do mundo”? (as aspas são do site da própria Ambev).

2) a argumentação da defesa da agência Mood, responsável pela propaganda, citou a "Boa", da Antarctica, com Juliana Paes, para argumentar que a proibição é incabível porque "não é a primeira vez que se vê uma menina com uma lata de cerveja na mão dançando em um comercial de cerveja".

3) A proibição da Devassa atende ao argumento de que o anúncio é “desrespeitoso para mulheres e abusa de sensualidade”. Na minha opinião, "desrespeitoso para mulheres" soa muito politicamente correto para o meu gosto. E "abusa" de sensualidade é subjetivo. O que é "abusar" da sensualidade quando sabemos que na TV tudo pode? Se qualquer pessoa for ao site do Conar, verá que entre seus preceitos básicos está o seguinte: todo anúncio "deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar diferenciações sociais".
Independentemente de sexo e sensualidade, este preceito torna-se uma piada se você assistir a uma miríade de anúncios televisivos quaisquer, que incentivam o consumo desenfreado, a velocidade dos carros potentes, a voracidade das crianças por produtos comestíveis nocivos à saúde etc.

Isso para não ir além e lembrar que a novela da noite da Globo e o pernicioso Big Brother são liberados para horários em que as salas estão cheias de crianças. OK, novelas e programas não têm nada a ver com o Conar, órgão não governamental e de autorregulamentação, criado pelo próprio mercado publicitário. A questão fica colocada apenas para reflexão.

Enfim, para quem não viu, o comercial proibido está abaixo. Cada um que faça seu juízo.

[atualizado à ooh10]


segunda-feira, 29 de março de 2010

Quartas-de-final da Liga dos Campeões começa nesta terça

Começam as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa (veja abaixo a tabela dos jogos, que serão transmitidos terça e quarta-feira, dias 30 e 31, pela ESPN e ESPN Brasil).

Em tese, os duelos mais empolgantes serão Bayern de Munique x Manchester United (que a Gazeta também mostra ao vivo) e Arsenal x Barcelona. Favoritismo para ingleses no primeiro jogo e catalães, no segundo.

Manchester e Barcelona são os dois melhores times da Europa atualmente, na minha opinião, e têm dois dos maiores craques do mundo, Wayne Rooney e Lionel Messi. Sem eles, a Copa do Mundo ficaria muito mais pobre.

Os amantes das dicotomias já colocam a mais nova questão: quem é melhor? Messi ou Rooney? Não acho tal comparação pertinente. Ambos jogam em posições diferentes, são de culturas futebolísticas diferentes, e cada um representa da melhor maneira o estilo inglês (Rooney) e argentino (Messi) do chamado esporte bretão.

A performance do atacante inglês nesta temporada é espetacular. Graças a seu talento, oportunismo, força e precisão, os Diabos Vermelhos estraçalharam o Milan do decadente Ronaldinho Gaúcho nas oitavas da Liga, 3 a 2 no San Siro (16 de fevereiro) e só 4 a 0 em Manchester (10 de março). Rooney fez quatro gols, dois por partida.

Parênteses: não consigo entender por que o "lobby" por Ronaldinho Gaúcho em nossa imprensa é tão insistente. A última vez que esse rapaz desequilibrou um jogo importante pela seleção, ou por ela fez uma partida digna de um jogador diferenciado, foi contra a Inglaterra em 2002, na campanha do penta (Mundial em que Rivaldo e Ronaldo foram os jogadores decisivos). Na ocasião, contra os ingleses, Gaúcho marcou um golaço de falta sem querer, realizou uma grande jogada em que entortou o inglês para passar a Rivaldo, que fuzilou, e depois foi expulso por uma solada.

Messi, em um aspecto, lembra Ronaldinho Gaúcho: é que
o futebol do craque argentino do Barça ainda não encantou na seleção. Talvez porque a seleção
da Argentina nos últimos anos venha capengando, sem padrão tático, o que prejudica o futebol de qualquer um. Ou será porque Messi tem pouca identificação com as coisas de seu país, já que foi para o Barcelona ainda adolescente, quase criança, depois de ser rejeitado em sua terra? O argentino, porém, tem tempo: não fez nem 23 anos ainda, enquanto o brasileiro já completou 30 e continua com aquele ar blasé de quem parece não se importar com nada.

Mas também Messi conta com uma espécie de idolatria na mídia brasileira que às vezes cansa.

Se tivesse que escolher entre Messi e Rooney para jogar no meu time, eu escolheria o inglês. São dois craques, mas tenho uma certa antipatia pelo meia do Barcelona e pela idolatria a ele. E também porque no Santos já tem Neymar e Paulo Henrique Ganso.

Liga dos Campeões da Europa
Quartas de final - Jogos de ida

30 de março de 2010 (terça-feira)
15h45 - Lyon 3 x 1 Bordeaux (ESPN) *
15h45 - Bayern de Munique 2 x 1 Manchester United (transmissão: Gazeta e ESPN-Brasil) *

31 de março de 2010 (quarta-feira)
15h45 Internazionale 1 x 0 CSKA Moscow **
15h45 Arsenal 2 x 2 Barcelona **

Atualizado às 12h05
*Atualizado às 21h27 (30/03/2010)
**Atualizado às 23h31 (31/03/2010)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Digressão literária sobre o caso Isabella

Faltam algumas horas para ser conhecido o resultado do julgamento do casal Nardoni, acusado de matar a menina Isabella em março de 2008.

Acho meio irritantes os comentários-clichês e politicamente corretos do tipo “Isabellas morrem todos os dias, principalmente as negras, pobres” etc. Claro que o Brasil está muito longe de ter justiça social, que nossas crianças pobres são vítimas das mais bárbaras formas de violência e que o judiciário do país está muito longe de ser justo, com o perdão do pleonasmo.

Mas a discussão de um crime como o que vitimou a menina Isabella é apaixonante. Não há como negar. E não é apenas produto do “espetáculo midiático”. O embate de argumentos entre promotoria e defesa, os mistérios, as supostas motivações dos assassinos ou suspeitos, a imaginação que perpassa tanto nossas (pelo menos minhas) reflexões como as discussões sobre o assassinato, tudo isso é muito sedutor ao espírito.

Se não fosse, Dostoiévski, por exemplo, não teria se debruçado sobre o crime em suas duas maiores obras-primas, Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov. Há muitos outros exemplos de artistas e pensadores que focaram o tema. Michel Foucault, com o impressionante Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, que é o estudo psiquiátrico e judicial, documentado, de um caso ocorrido na primeira metade do século XIX, na França.

Norman Mailer trata do tema crime mas não entra em implicações jurídicas, com seus bons Um Sonho Americano e Os Machões não Dançam, que retratam, como talvez dissesse Paulo Francis?, a podridão da burguesia americana.

Entre incontáveis filmes que enfocam este que é um tema duplo, assassinato/julgamento (ou justiça), sempre me ocorre o francês A Isca (L'appât – 1995), do diretor Bertrand Tavernier. (Observação: há um outro filme chamado A Isca, americano. Enlatado. Eu falo do francês). É a história de uma menina de 18 anos que, querendo juntrar dinheiro para viajar aos Estados Unidos, cria com o namorado um golpe em que ela serve de isca para seduzir executivos, que são levados a uma armadilha, assaltados e... Aparece o assassinato, o inquérito. Vale a pena assistir.

Mas enfim, viagens à parte, voltando ao caso Isabella, concordo com Ricardo Kotscho, que falou em seu blog: “não conheço ninguém, a não ser os advogados da defesa e a família dos acusados, que ainda tenha alguma dúvida sobre a responsabilidade de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pela morte de Isabella”.

Eu penso que a decisão do júri só não será pela condenação se uma distorção der maioria à defesa. O júri é polêmico, como instituição, porque é influenciável pela emoção. Se os aspectos técnicos, perícia, produção de provas e os argumentos irrefutáveis da promotoria prevalecerem, não há como absolver Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.

Só se, como no conto Os Crimes da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, o assassino for um macaco.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Paulistão gera crises e dá alegria, ora pois

Gaspar Nóbrega VIPCOMMTimão 1 x 1 Tricolor no 2° turno do Brasileiro 2009.
Rivais voltam a se enfrentar neste domingo



Insisto: tradição e a rivalidade fazem do Paulistão uma competição ímpar, a meu ver (fora outros aspectos até mais importantes, como manter os clubes do interior do estado em atividade). O momento atual dos times grandes mostra que, apesar de desprezado por alguns, o campeonato gera crises e felicidade. E não seria assim, se não valesse nada.

Quando chega o fim do ano e um time não ganhou nada, o Paulista aparece no calendário dos decepcionados como grande esperança no horizonte do calendário seguinte. No ano passado, o São Paulo F. C. ficou com aquele discurso de "priorizar a Libertadores" e terminou 2009 seco, sem ganhar nada. Começou 2010 senão com o mesmo discurso, pelo menos com igual espírito. Embora ande meio capenga no Paulistão e jogando pro gasto na Libertadores, o Tricolor tem 30 pontos no estadual, está em 3° e deve ir às semifinais.

O Corinthians foi campeão em 2009 em grande estilo, este ano patina e está à beira da crise, embora sua colocação na Libertadores, no momento, seja tranqüila (mas nesta competição, a hora de a onça beber água só chega nos mata-matas). Depois de perder para o Paulista por 1 a 0 em Barueri na quarta-feira, 25, a lua de mel entre a torcida e Ronaldo ficou estremecida, com direito a cobrança, cerco ao carro do atleta na saída do estádio e gesto obsceno do Fenômeno em direção ao grupo que o cobrou. Em nota, o pentacampeão já se desculpou, mas...

Clássico
Domingo, o clássico São Paulo x Corinthians no Pacaembu, que poderia ser tranqüilo se ambos estivessem bem no Paulistão, vai ser tenso e um grande perigo para os dois times, principalmente o Timão. Se perder, vai se afastar mais ainda do G-4 (está dois pontos atrás da Portuguesa, a quarta colocada hoje) e entrar numa turbulência preocupante para a Fiel num momento em que até Mano Menezes já admitiu haver problemas internos, cobra hombridade etc.

No São Paulo, a luz ainda não está amarela; se ganhar domingo, o time viaja em paz para o México, onde pega o Monterrey pela Libertadores no meio de semana. E alegraria a torcida, que faz tempo anda desconfiada. Pudera, o futebol que o time de Ricardo Gomes vem apresentando não passa de sofrível. Mas, se perder para o arquirrival, o sinal amarelo acende.

E a Lusa, será que vai? A vitória contra o Mirassol por 1 a 0 animou os torcedores. É a terceira seguida, após bater também São Caetano e Monte Azul.

E o Palmeiras perdeu o rumo desde a reta final do Brasileirão 2009. Virtualmente eliminado do estadual, só lhe resta tentar um improvável título na Copa do Brasil e se preparar para o Brasileiro.

E o Santos...
Bem, o Santos continua encantando com seu futebol maravilhoso e inacreditável para os dias de hoje, e só espera saber quem vai enfrentar nas semifinais do estadual, além de pensar na Copa do Brasil.

A maior preocupação de fato, hoje, para a torcida alvinegra, é a ameaça de perder para as aves de rapina do futebol europeu as joias que estão dando essa alegria, como Neymar (ao lado, foto de Eduardo Metroviche). A sombra de empresários e emissários já ronda a Vila Belmiro. Acredito que, para muitos, como para mim, a manutenção dos principais jogadores para o Brasileiro seria até mais importante do que um título nesse começo de temporada.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Serra continua cuidando
da educação com a polícia

Tropa de Choque, gás de pimenta, pancadas e quatro prisões. Este é o resultado da ação do governo José Serra contra um grupo de cerca de 40 professores que faziam manifestação durante um evento do qual o governador participou em Franco da Rocha, na Grande São Paulo.

Os professores estão em greve há três semanas e não conseguem nenhuma interlocução com Serra. "Ele não nos recebe nem negocia", disse-me Edmilson Costa Santos, conselheiro estadual da Apeoesp. "Essa é a truculência do PSDB que nos governa há 16 anos".

De acordo com ele, José Serra foi em Franco da Rocha "inaugurar um elefante branco, o esqueleto de um hospital que vai ser inaugurado em 2013".

Na semana passada, o governador e pretendente a ocupar a presidência da República a partir de 2011 disse que "protesto de professor é trololó".

Não preciso falar mais. Os professores sabem muito bem como é tratada a educação pelo tucanato em São Paulo. E no Brasil. É só perguntar a qualquer professor que lembrança tem do período FHC.

terça-feira, 23 de março de 2010

Confirmado: emperra cronograma de entrega de novas estações do metrô

Divulgação
Pois é. Na semana passada postei um texto sobre as dificuldades para conseguir informações sobre o metrô de São Paulo e o atraso das obras prometidas e não inauguradas ainda, entre outras informações que interessam à população.

Não sou eu, não são políticos em campanha petista que querem prejudicar nosso atuante governador, mas a Folha de S. Paulo de hoje a informar que "Metrô de SP atrasa e ameaça expansão".

É uma péssima notícia para a ainda não lançada campanha do governador José Serra (PSDB), de São Paulo, ao Palácio do Planalto.

"Gestão Serra já cita prazo até 2011 para concluir a primeira fase da linha 4-amarela; entrega da Luz e da República é incerta", diz a reportagem.

Segundo a matéria, "para os passageiros, a boa notícia é a expectativa de inauguração nos próximos dias de duas estações da nova linha 4-amarela: Faria Lima e Paulista". Mas são tantas promessas não cumpridas e desculpas esfarrapadas que fica até difícil encarar como boas as notícias de inaugurações de duas estações, de seis prometidas da Linha 4-Amarela, entre vários outros furos de calendário.

"A promessa do Estado veiculada em panfletos e na TV era de que '28 novas estações' de metrô e de trem seriam entregues de 2007 até este ano. Pelo menos seis, no entanto, vão atrasar: Adolfo Pinheiro e Brooklin-Campo Belo (linha 5-lilás), São Judas e Congonhas (linha 17-ouro), Luz e República (linha 4-amarela)".

A estação do Butantã, que citei na semana passada, é mencionada pela matéria da Folha como uma das que o governo Serra teria "a intenção de operar neste ano" na linha 4: Faria Lima, Paulista, Pinheiros e Butantã. Mas, pelo que parece, só as duas primeiras, de lugares chiques, estão certas.

A íntegra da matéria da Folha está aqui (para assinantes)

domingo, 21 de março de 2010

Gol do Santos!

Nos comentários a respeito do time que encanta o Brasil hoje, o Santos, são pertinentes as analogias com a seleção da Hungria (1954), Holanda (1974 e 1978) e Brasil (1982). Três grandes seleções cujas derrotas fizeram muito mal ao futebol. A vitória da Itália na Copa do Mundo de 82 fez com que o futebol pragmático, feio e vencedor se tornasse hegemônico por muito tempo. O tetra do Brasil em 1994, nos Estados Unidos, foi a coroação verde-amarela desse estilo.

O time do Santos que fez 45 gols no Campeonato Paulista em 15 jogos; deu show de futebol nas vitórias de 9 a 1 contra o Ituano no Pacaembu neste domingo, 10 a 0 sobre o Naviraiense, 2 a 1 em cima do Corinthians e do São Paulo; e perdeu para o Palmeiras (4 a 3) e empatou com a Portuguesa ( 1 a 1), não é um time comum.

E é quase unânime que a alegria do time, que se manifesta nas danças contras as quais até eu já fui ranzinza, contamina o futebol brasileiro hoje. Não sei quanto tempo, diante do poder econômico, vai durar esse time do Santos que empolga quem quer que goste de futebol. Mas já terá marcado a história do futebol.

A ficha dos gols de mais esse show (Santos 9 x 1 Ituano – Vila Belmiro - 21/03/2010) é:

Primeiro tempo: João Leonardo (Ituano), a 1 minuto; André aos 14, Paulo Henrique aos 28, André aos 39 e Madson aos 46;
Segundo tempo: Madson, aos 8, Maikon Leite aos 16, Paulo Henrique aos 27, Zé Eduardo aos 40 e André aos 46 minutos do segundo tempo.

Veja os gols do novo show:



E já que estamos falando de show, vai abaixo a homenagem ao Santos Futebol Clube nas vozes do santista Zeca Baleiro (que se apresenta em Santo André na próxima sexta-feira – veja informações abaixo do vídeo) e do menino Pedrinho. Às vezes ouvir é melhor do que falar:



Zeca Baleiro se apresenta nesta sexta-feira, às 21 horas, no Sesc Santo André

Serviço:
SHOW: Baile do Zeca Baleiro Especial/ Homenagem a Jackson do Pandeiro
SESC Santo André
Dia(s) 26/03
Sexta, às 21h.

Ingressos
R$ 30,00 [inteira]
R$ 15,00 [usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante]
R$ 7,50 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]
Telefone: 11 4469-1200

Atualizado às 13h

sexta-feira, 19 de março de 2010

Lembrando Glauco

Muro pintado pelo grafiteiro Dingos, em Osasco, dia 12

Entrevistei, para o jornal Visão Oeste, do qual sou editor, duas pessoas que conviveram com o cartunista Glauco Vilas Boas, assassinado por um mentecapto e, ao que parece, psicopata, na semana passada.

Glauco trabalhou por quatro anos no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, entre 1981 e 1984, onde ilustrava o jornal Visão Trabalhista e outras publicações. O atual vice-presidente da entidade, Carlos Aparício Clemente, conviveu com ele no período. Segundo Clemente, a presença do artista introduziu um elemento novo ao meio sindical. “Ele vinha no sindicato com seu jeito molecão, e, no meio de uma categoria sisuda, conseguia trazer beleza e leveza”.

Outro com quem falei, o atual secretário do Meio Ambiente de Osasco, Carlos Marx, era redator do jornal do sindicato. Marx conta que, muitas vezes, ia buscar o cartunista em sua casa, na Vila Madalena, para levá-lo a Osasco. “Nossa relação de amizade era muito forte”, diz. Depois de muito tempo, voltaram a se encontrar, na localidade onde o cartunista tinha suas atividades na igreja Céu de Maria, culto ligado ao Santo Daime, do qual Marx não participava.

Além de toda a tristeza, dói mais ainda saber que a brutalidade atingiu um cara que era "pacífico, brincalhão, gozador, como os personagens dele", segundo Carlos Marx. Ou seja, este mundo é mesmo uma merda.

Leia a matéria do Visão Oeste na íntegra

quarta-feira, 17 de março de 2010

Metrô adia inaugurações em SP. E... alguém se lembra da tragédia de 2007?

A coisa mais difícil é encontrar informações sobre o metrô de São Paulo. Hoje li uma notinha no Estadão dando conta de que a operação da Linha 4-Amarela vai ter início em abril, entre as estações Faria Lima e Paulista, cujas inaugurações estavam previstas para março.

Liguei à assessoria de imprensa do Metrô e eles desmentiram. Enviaram-me uma nota que, segundo a assessoria, é a mesma enviada a todos os jornais. Diz ela que "a entrega das duas primeiras estações, Paulista e Faria Lima, da Linha 4-Amarela depende da conclusão bem sucedida de uma série de complexos e exaustivos protocolos de teste". Segundo o texto, "em breve, as estações Paulista e Faria Lima entrarão em operação".

Perguntei à assessoria sobre a estação que fica na avenida Vital Brasil, no Butantã, que interessa a uma enorme população da zona Oeste da Grande São Paulo, incluindo Osasco, e fui informado de que não há previsão. O bairro em que fica a maior universidade do país, a USP, continua relegado, pelo governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), à condição de periferia sob todos os aspectos. É só andar de carro pelas ruas totalmente esburacadas ou a pé, por calçadas inexistentes, para comprovar.


Tragédia fez 3 anos
Rua no local do desabamento - Foto: Eduardo Maretti
Por falar em Linha Amarela, alguém se lembra da "tragédia anunciada", que, em 12 de janeiro de 2007, matou sete pessoas e deixou mais de 200 subitamente sem moradia na região de Pinheiros? (na foto, uma das ruas afetadas). Pois parece que todo mundo se esqueceu. Em uma pesquisa meio rápida é fácil encontrar matérias do segundo aniversário do episódio, mas do terceiro... E, se isso é uma tarefa árdua, imagine achar o nome do governador Serra ou do ex, Geraldo Alckmin, nas matérias sobre o caso na imprensa. As reportagens se referem a todos os tipos de personagens, menos a eles. Na hora da notícia ruim, o governador deixa de existir. Curioso isso.

O Ministério Público Estadual (MPE) já ofereceu denúncia contra 14 pessoas, incluindo diretores, funcionários graduados e técnicos terceirizados da Companhia do Metropolitano e, claro, profissionais do Consórcio Via Amarela, formado por Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Não se sabe quando haverá julgamento.

terça-feira, 16 de março de 2010

Perguntar não ofende: estamos em Israel
ou no Brasil?

Lula e Shimon Peres/foto: Ricardo Stuckert
Se você ler os dois maiores jornais de São Paulo de hoje (ou nem ler, mas apenas olhar as manchetes nas bancas) provavelmente vai pensar que está em Israel e não no Brasil. A primeira visita de um presidente brasileiro ao Oriente Médio em 100 anos parece uma questão de Estado. Israelense.

"Israelenses cobram de Lula distância do Irã", diz a manchete da Folha de S. Paulo. De modo quase risível, o Estadão usa o mesmo verbo, "cobrar", como se os nobres diários fossem objeto de um ventríloquo. "Governo e oposição em Israel se unem e cobram Lula sobre o Irã", diz o jornal dos Mesquita na manchete.

Visivelmente incomodada (com o quê?), a Folha dedica espaço a ninguém menos que o boss Otavio Frias Filho, para que ele manifeste sua opinião no artigo "Uma política ingênua e errática". No texto, sobre a posição brasileira na visita de Lula a Israel, Frias se refere ao ministro Celso Amorim e ao presidente da República como "nosso simplório presidente e seu trêfego chanceler".

Classifica nossa política externa de "errática, cheia de distorções seletivas" e, como se escrevesse um ditado da embaixada norte-americana no país (já que ele não deve ter acesso tão fácil a Hillary Clinton e outros figurões), o articulista "exorta" o governo brasileiro por uma política de "equidistância comedida".

Diz mais, o artigo. Segundo ele, na política externa do Brasil "a questão dos direitos humanos, por exemplo, deixa de ter qualquer valor no trato com inimigos de Washington, os quais adulamos para sermos vistos como 'independentes'". Ora, todo mundo sabe que os direitos humanos não existem no Irã. Lá, mulheres são executadas a pedradas por cometerem o crime de adultério. É o horror. Mas, curiosamente, Frias se inflama pelos direitos humanos sem mencionar em seu longo texto sequer uma vez a palavra Palestina. Nem territórios ocupados.

Ainda bem que existe imprensa internacional. Nela podemos ler muita coisa interessante. Destaco uma análise de outubro, do articulista David Rothkopf, da prestigiada revista norte-americana Foreign Policy (Política Exterior), em que ele fala da política externa brasileira.

O texto não se restringe a um episódio, mas é uma análise do trabalho do Itamaraty sob Celso Amorim, por isso o artigo se mantém atual e cito-o aqui. “É difícil achar outro ministro das relações exteriores que tenha orquestrado com tanta eficácia uma transformação de tal magnitude do papel internacional de seu país", escreveu Rothkopf sobre o chanceler brasileiro.

Antes que eu me esqueça (os jornais de nosso país se esquecem frequentemente disso): o Brasil defende que não apenas Israel, mas também a Palestina, sejam territórios livres, soberanos e que possam viver em paz.

Observação: Texto também publicado no Observatório da Imprensa

domingo, 14 de março de 2010

Palmeiras 4 x 3 Santos. Justo? Sim. Verdão entrou em campo para fazer o que fez

Por Paulo Maretti

Parece que cada novo jogo disputado entre Santos e Palmeiras (como bem rememorado no texto abaixo) é sequência das partidas anteriores em que os dois se enfrentaram: gols, gols e mais gols. Hoje foram sete, e o Palmeiras de Robert derrotou os favoritíssimos garotos da Vila Famosa num embate eletrizante, na Baixada.

O gol perdido do Tcheco há duas ou três semanas pelo Corinthians contra o mesmo Santos pareceu um aviso ao bom de bola mas ainda inexperiente e jovem time santista.

Comandado por Paulo Henrique Ganso e empurrado pela torcida, o Santos começou ligado em 220, com dribles, passes precisos e extrema rapidez, e rapidinho mesmo fez 1 a 0 e 2 a 0 no amedrontado Palmeiras, que até esse momento, se bem me lembro, não tinha dado um único chute a gol, acho que nem pras arquibancadas, e que já tinha levado dois cartões amarelos em entradas fortes de Edinho e Leo. Tudo apontava pra uns 4 a 0, 5 a 1, 6 a 1 etc.

E eis que de repente (não mais que de repente) o Alviverde renasce nos pés do sempre Cleiton Xavier cobrando uma falta marcada sobre Diego Souza (que me pareceu não existir). O gol valeu por si e por metade dos outros três marcados pelo Verdão, porque a partir daí o Santos cedeu o empate em 2 a 2 e foi esmorecendo a cada minuto.

Veio o segundo tempo e o time da praia havia perdido as chuteiras: passes errados, erros de marcação e nervosismo (evidente na expulsão de Neymar) permitiram ao Palmeiras jogar com êxito nos muitos erros do rival, virar a partida para 3 a 2, sofrer um bonito gol (de empate, de Madson) e de dar o troco com o terceiro de Robert na partida e o quarto do Palmeiras, num golaço de fora da área. Estava tudo consumado: 4 a 3. Veja os gols abaixo:



Justo? Sim. O Palmeiras entrou em campo para fazer o que fez (jogar seu futebol feio e depois deixar tudo bonito para os palmeirenses, como disse certa vez Felipão), diante de um adversário em melhor fase. O Santos não fez o que esperavam os santistas, que gritavam por goleada das cadeiras após os 2 a 0. Assustadíssimo com o empate em dois minutos, o time da Vila sucumbiu no segundo tempo.

O Palmeiras revive suas esperanças de classificação para as semifinais, e evita ser eliminado por um concorrente direto. O Peixe perde a chance de desbancar de vez um time do qual pode ganhar ou perder na fase decisiva da competição.

Santos x Palmeiras – Clássico de tradição
e grandes jogos

Hoje tem Santos x Palmeiras na Vila. Como se sabe, o Alviverde era o único grande time que de verdade tinha o hábito de ganhar do time de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. De 1958 a 1969 (até o São Paulo ganhar em 1970) a equipe da Vila só não foi campeã em 59, 63 e 66, anos em que o Palmeiras lavantou o título (veja lista de todos os campeões paulistas na Wikipedia).

A esquadra de Diego, Robinho, Elano, Renato e companhia levantou o Brasileirão de 2002 sem bater o Verdão, que foi rebaixado naquele ano, quando o nacional era em turno único. Na Vila, 1 a 1, gol de Robinho, uma atuação sobrenatural do goleiro Marcos e gol de empate de Arce, batendo falta, no finzinho do jogo.

Em 2003, o Palmeiras jogou a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e não houve duelo entre os times, já que eles não se encontraram pelo estadual.

Em 2004, 2 a 2 pelo Paulistão e ano em que o Santos viria a ser novamente campeão nacional. E, pelo Brasileiro, o Alviverde enfiou 4 a 0 em plena Vila Belmiro no primeiro turno, num jogo em que Vanderlei Luxemburgo, então treinador santista, poupou os principais jogadores para a Libertadores no primeiro tempo. O Verdão de Vágner Love não quis nem saber. Quando Luxemburgo pôs os titulares, já era. No returno, 2 a 1 para o Peixe na capital. Mas o Santos não era mais o time de Robinho e Diego. Este havia sido negociado no primeiro semestre com o Porto.

Em 2009, o Palmeiras goleou o Santos na fase de classificação do Paulista (4 a 1), mas na semifinal o Alvinegro eliminou o rival com duas vitórias de 2 a 1, na Baixada e na Capital. Pelo Brasileiro do ano passado, 1 a 1 no Parque Antactica e 3 a 1 para o Palmeiras na Vila.

O clássico tradicionalmente é imprevisível e sua história é repleta de grandes partidas. O que o Santos de Neymar,Ganso e Paulo Henrique Ganso está jogando o credencia a matar o Palmeiras. Mas nunca se sabe.

Voltarei a falar mais tarde, após a partida.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Você matou o humor, assassino maldito


(Luis Dourado ©)

Pitbull pode ser extinto no Brasil. Oxalá

Segundo matéria do repórter Leandro Conceição, do jornal Visão Oeste, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado deve votar em breve um projeto de lei (PL) que “proíbe a reprodução dos pitbulls e institui esterilização obrigatória dos machos”.

A médio prazo, se o projeto virar lei, isso significará a extinção da raça pitbull (que alguns preferem grafar pit bull) no país. A reportagem consultou defensores dos direitos dos animais, e até o advogado criminalista Fernando Fernandes, que acusa inconstitucionalidade no projeto. De acordo com ele, “o artigo 225 da Constituição Federal (CF) veda expressamente a extinção de qualquer espécie”.

Mas, data vênia, justamente o citado artigo 225 da CF , em seu inciso VII, respalda o projeto que eu, particularmente, apoio. O dispositivo constitucional veda expressamente “as práticas que (...) provoquem a extinção de espécies”. Ora, o pitbull não é uma espécie, e sim uma raça, cuja ferocidade já a fez ser banida de países como Noruega e Dinamarca. Na Inglaterra, as informações são de que o cão só pode ser criado com autorização judicial. No Brasil, esses cães ainda atacam, mutilam e matam pessoas e ainda têm o apoio de associações de defesa do direito dos animais. Fala sério.

O projeto do senador Valter Pereira (PMDB-MS) não tem nada de inconstitucional.

Como cidadão, espero que o Congresso Nacional tenha o bom senso de fazer esse projeto virar lei.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Naviraiense, Vila Belmiro e o mar


Quando o Santos ganhou a partida de ida contra o Naviraiense por apenas 1 a 0 (precisava de 2 a 0 para eliminar a volta, na Baixada), eu comentei com o pessoal lá em casa que a equipe da cidade de Naviraí tinha conseguido o sonho que buscou: o privilégio de jogar na gloriosa Vila Belmiro (o que no futuro poderá ser contado aos netos, certamente com autógrafos de Robinho, Neymar e cia), conhecer a cidade de Santos e... o mar!

Por isso é que a Copa do Brasil é muito bacana.

Mas quem poderia esperar que placar do jogo de volta fosse Santos 10 x 0 Naviraiense. Veja os dez gols aqui. Foram vários golaços, feitos nessa ordem: primeiro tempo: Paulo Henrique Ganso, aos 6 minutos, André, aos 27 minutos, Neymar, aos 29 minutos, Robinho, aos 32 minutos, André, aos 37 minutos, Marquinhos, aos 45 minutos. Segundo tempo: Neymar, aos 9 minutos, André, aos 14 minutos, Madson, aos 20 minutos e aos 32 minutos.

O pessoal de Naviraí deve estar muito feliz de conhecer o mar... e o futebol!

terça-feira, 9 de março de 2010

Caetano deslumbra Buenos Aires

Se a rivalidade entre Brasil e Argentina existe no futebol (aliás, ótima fonte de renda para a imprensa e particularmente adorada por Galvão Bueno), em questões musicais o bom senso fala mais alto.

Outra observação: se Caetano Veloso deveria fugir de falar de assuntos políticos, quando se trata de música continua a ser o velho mestre de sempre.

Junto neste post alhos com bugalhos para comentar a repercussão do show Zii e zie, que o autor de "Sampa" apresenta em turnê pela América Latina. Os dois maiores jornais argentinos não economizam elogios sobre as duas apresentações do músico no Teatro Gran Rex, onde deverá se apresentar de novo este sábado, 13, data em que iria tocar em Santiago do Chile, abalada por um terremoto.

"Um 'trio elétrico' (guitarra, baixo e bateria, em alusão à banda Cê), um trovador sessentão, uma asa delta como cenografia e uma sucessão de canções em aparente estado selvagem, como breves explosões de magmas musicais, pontuadas pela sofisticação de sua arte: é Caetano Veloso surfando com elegância e jovialidade tropicalista", diz o jornal diário La Nación, de Buenos Aires.

O concorrente El Clarín, em matéria sob o título "Um contraponto de alto vôo", aborda o show afirmando que o brasileiro e seus músicos (o guitarrista Pedro Sá, o baixista Ricardo Dias Gomes e o baterista Marcelo Callado) "deslumbraram o teatro Gran Rex". De acordo com o Clarín, o "som elétrico [de Zii e Zie], cru e distorcido, é o melhor contraponto para a sofisticação de Caetano Veloso", analisa.

A turnê de Caetano segue, depois, para México e Estados Unidos, segundo o site oficial do artista.

domingo, 7 de março de 2010

Portuguesa x Santos: jogo histórico para coroar a tradição

Não assisti, mas ouvi no rádio, ao melhor jogo do Campeonato Paulista 2010 até aqui, segundo várias fontes radiofônicas e televisivas: Portuguesa 1 x 1 Santos. Pela narração, o embate foi espetacular, com o time da Vila Belmiro sendo anulado pela Lusa no primeiro tempo. Em falha de Edu Dracena, que foi lento na marcação, Héverton se aproveitou e mandou bem, no canto de Felipe. O segundo tempo foi literalmente uma blitz santista. A todo instante a narração de Oscar Ulysses na rádio Globo encerrava um ataque santista: “Pra fora do goool!” Enervante. O drama aumentava, e o justo empate só chegou aos 44 do segundo tempo. Até que Zé Eduardo empatou. Parecia um jogo de antigamente. Veja os gols abaixo.



HISTÓRIA
O jogo me fez lembrar alguns duelos inesquecíveis, para mim, entre Santos e Portuguesa. O primeiro, de 1973, a final do Paulista que Armando Marques transformou numa das maiores polêmicas da história do futebol paulista. Também ouvi pelo rádio. Naquela época não era essa orgia de futebol ao vivo.

Peixe e Lusa foram campeões do primeiro e do segundo turnos, respectivamente, e decidiram o campeonato num jogo que acabou 0 a 0. Não lembro da partida em si, do alto de meus 12 anos. Minha memória dele começa na decisão por pênaltis. Após os dois times baterem três vezes, o placar era 2 a 0 para o Santos. Faltavam duas cobranças a cada time, o Santos bateria com Pelé e Carlos Alberto e tinha no gol o grande goleiro argentino Cejas, que já havia defendido duas cobranças (a Lusa chutou outra para fora). Mas Armando Marques encerrou (errou nas contas?), o Santos comemorou com a torcida... e a Federação Paulista decretou que os dois times foram campeões. Era 26 de agosto de 1973. Assista:

.

Pouco mais de dois meses depois, em 4 de novembro do mesmo ano, pelo Brasileiro, o tira-teima. Estava com a família no supermercado, rádio grudado no ouvido de vez em quando. O nervosismo não me deixava ficar ouvindo. Aquele jogo não podíamos perder, eu lembro. Mas de repente já estava 2 a 0 para a Lusa, até que baixou o santo no Santos de Pelé. Por fim, o negão recebeu um passe de Clodoaldo, meio de costas para o gol, matou no peito no ar, ao mesmo tempo em que trouxe a bola e chutou de canhota quando esta caía, de canhota. Foi um dos maiores gols que já vi. Esse foi o gol da virada, 3 a 2 no tira-teima após a final do Paulistão de 1973. Os dois gols de Pelé, da virada, estão neste link: Santos 3 x 2 Portuguesa, novembro de 1973.

E mais uma partida inesquecível foi em 1° de maio de 1993, no Canindé, pelo Paulistão, quando o craque luso Dener fez uma partida histórica e levou a Portuguesa a uma vitória por 4 a 2, memorável, de virada, depois de estar perdendo por 2 a 0. O time Rubro-verde fez quatro gols em menos de 20 minutos, no segundo tempo, num dia de chuva. Esse eu vi in loco. Dener fez nesse jogo um gol de placa, com cotovelada e tudo, falta clara que a história do futebol agradece ao juiz por não ter dado, confirmando o gol.

Outros jogos históricos:

- em 19 de outubro de 2002, a Lusa ganhou do Peixe de Robinho, Diego, Elano e companhia, em plena Vila Belmiro. 2 a 1 de virada. O time da Baixada, como se sabe, foi campeão nacional naquele ano e a Portuguesa, rebaixada à segunda divisão*;
-em 9 de abril de 2006, o Santos bateu a Portuguesa por 2 a 0, na Vila Belmiro (gols de Cléber Santana e Leonardo contra), quebrando um jejum de 21 anos sem conquistar o título estadual.

Por essas e outras, Santos x Portuguesa é um clássico. Pelo rádio, na TV ou no campo.

*Atualizado às 16h52

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Mineiros repelem a arrogância" de José Serra

Como contraponto às notícias oriundas da grande imprensa paulista ("Serra avisa ao PSDB que é candidato" – Folha de S. Paulo de hoje), o jornal O Estado de Minas manifesta em editorial o "sentimento" de "indignação" com que "os mineiros repelem a arrogância de lideranças políticas que, temerosas do fracasso a que foram levados por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador Aécio Neves".

O editorial, intitulado “Minas a reboque, não!”, ataca a insistência do tucanato do grupo de José Serra em impor a Aécio a "obrigação" de aceitar o "sacrifício" político de ser vice na chapa à presidência da República.

O jornal mineiro diz também que as lideranças tucanas estão "atarantadas com o crescimento da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff", e critica a "postura vacilante do próprio candidato [Serra]", considerando inadmissível que Aécio Neves pague a conta dos vacilos subordinando-se a ser vice do governador paulista.

Leia a íntegra do editorial de O Estado de Minas abaixo:

Indignação. É com esse sentimento que os mineiros repelem a arrogância de lideranças políticas que, temerosas do fracasso a que foram levados por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador Aécio Neves. Pior. Fazem parecer obrigação do líder mineiro, a quem há pouco negaram espaço e voz, cumprir papel secundário, apenas para injetar ânimo e simpatia à chapa que insistem ser liderada pelo governador de São Paulo, José Serra, competente e líder das pesquisas de intenção de votos até então.

Atarantados com o crescimento da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, percebem agora os comandantes do PSDB, maior partido de oposição, pelo menos dois erros que a experiência dos mineiros pretendeu evitar. Deveriam ter mantido acesa, embora educada e democrática, a disputa interna, como proposto por Aécio. Já que essa estratégia foi rejeitada, que pelo menos colocassem na rua a candidatura de Serra e dessem a ela capacidade de aglutinar outras forças políticas, como fez o Palácio do Planalto com a sua escolhida, muito antes de o PT confirmar a opção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na política, a hesitação cobra caro, mais ainda numa disputa que promete ser das mais difíceis. Não há como negar que a postura vacilante do próprio candidato, até hoje não lançado, de atrair aliados tem adubado a ascensão da pouco conhecida candidata oficial. O que é inaceitável é que o comando tucano e outras lideranças da oposição queiram pagar esse preço com o sacrifício da trajetória de Aécio Neves. Assim como não será justo tributar-lhe culpa em caso de derrota de uma chapa em que terá sido apenas vice, também incomoda os mineiros uma pergunta à arrogância: se o mais bem avaliado entre os governadores da última safra de gestores públicos é capaz de vitaminar uma chapa insossa e em queda livre, por que Aécio não é o candidato a presidente?

Perplexos ante mais essa demonstração de arrogância, que esconde amadorismo e inabilidade, os mineiros estão, porém, seguros de que o governador “político de alta linhagem de Minas” vai rejeitar papel subalterno que lhe oferecem. Ele sabe que, a reboque das composições que a mantiveram fora do poder central nos últimos 16 anos, Minas desta vez precisa dizer não.

terça-feira, 2 de março de 2010

Contradições e problemas do cinema nacional, segundo Eduardo Escorel

ENTREVISTA


Foto: Eduardo Maretti
O cineasta Eduardo Escorel, nascido em São Paulo em 1945, tem uma filmografia incomum. Trabalhou como editor na montagem de algumas das mais importantes obras da cinematografia nacional, como Terra em Transe (1967), O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), ambos dirigidos por Glauber Rocha, Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969), São Bernardo (1971) e Eles Não Usam Black-Tie (1981) – os dois últimos de Leon Hirszman –, entre outros.

Como diretor, assina por exemplo Lição de Amor (1975), baseado no romance Amar, Verbo Intransitivo, de Mario de Andrade, Vocação do Poder (2005, co-dirigido por José Joffily), excelente documentário sobre as eleições municipais de 2004, no Rio de Janeiro, que mostra o cotidiano das campanhas de seis candidatos novatos a vereador. Interessante para se ver como nascem os vícios e as ilusões na política.

Seu filme mais recente, o documentário O Tempo e o Lugar, conta a história de contradições de Genivaldo Vieira da Silva, ex-líder do Movimento dos Sem-Terra, que vira proprietário e tenta o caminho da política tradicional em Inhapi (AL) - leia mais sobre este filme e veja a filmografia de Eduardo Escorel em links abaixo.

Nesta entrevista exclusiva ao blog, o cineasta diz por que hoje é "mais difícil fazer um filme no Brasil do que talvez jamais tenha sido". Fala sobre Lula, o Filho do Brasil (um "filme sem personalidade") e critica a falta de espaço no mercado para o chamado "cinema de autor", além de contar sobre seus novos projetos (uma série cujo tema é o Estado Novo e um documentário sobre o compositor Paulo Moura).

Aos jovens que hoje estudam e querem fazer cinema, Escorel é realista: aconselha que "preparem as costas, porque as pancadas são muitas".

Por Eduardo Maretti

Fatos Etc – Com o fim da Embrafilme, em 1990, extinta por Collor, o cinema brasileiro sofreu um abalo. Estive com Nelson Pereira dos Santos uns três anos atrás, quando fazia Brasília 18%, e ele reclamava que a situação dos cineastas brasileiros continuava ruim, financeiramente. Mudou, piorou a situação dos cineastas depois do fim da Embrafilme?

Eduardo Escorel – Olha, Maretti, mudar acho que mudou muito. Os mecanismos de financiamento que foram criados a partir de 1994, principalmente, alteraram de modo significativo as formas possíveis de financiamento da produção de filmes. E houve, por outro lado, progressivamente, e nos últimos anos de maneira mais acentuada, um aumento muito grande do volume de recursos investidos no cinema. E também uma diversificação de mecanismos, e diferentes projetos de apoio ao cinema. Houve uma alteração muito significativa em relação ao que existiu entre 1970, setenta e poucos, e 1990. Mas eu não acredito que essa alteração tenha propriamente facilitado a vida do profissional de cinema. Ao contrário, porque essa modificação trouxe junto com ela uma burocratização muito grande de todos os procedimentos ligados à obtenção de financiamentos, que tornaram a atividade de tentar viabilizar o filme um novo tipo de calvário. Não se trata só de conseguir convencer alguém que aquele projeto é interessante, e que quem possa deva apoiá-lo. Simplesmente para conseguir pôr um projeto de pé existe todo um procedimento que é muito penoso, muito trabalhoso, muito custoso. Então, acho que está, hoje em dia, mais difícil fazer um filme no Brasil do que talvez jamais tenha sido. E é uma coisa contraditória. Quer dizer, há mais recursos, mais projetos e mais planos, e está mais difícil.

Por causa da burocratização?
Por causa da burocratização, por causa de várias coisas. Não só burocratização. Por causa, em grande parte, da burocratização. A concepção desses editais, formas de apoio, o fracionamento de múltiplas fontes de financiamento trazem também problemas; obrigam a todo um procedimento que se repete, se multiplica. Fazer cinema virou uma batalha burocrática, uma batalha do papel, muito antes de sequer se tornar uma batalha propriamente cinematográfica.

A solução de uma estética hollywoodiana que se vê em filmes como Dois filhos de Francisco ou Lula, o Filho do Brasil e até algumas produções de Walter Salles (Central do Brasil) é positiva para o cinema nacional?
Veja bem, eu acho que é preciso diferenciar um pouco. É difícil englobar numa mesma categoria o Lula, o Filho do Brasil até com Dois Filhos de Francisco e mais ainda com os filmes do Walter Salles. A gente tem hoje em dia uma produção que, inclusive, em alguns casos, alcança um certo sucesso comercial, que é uma produção de filmes que são subprodutos da televisão: Se eu fosse você 1, Se eu Fosse você 2, coisas assim. Então, há uma tendência a se fortalecer filmes muito derivados de uma concepção que nasce na televisão. Eu acho até que é normal que exista esse tipo de produção. Não é de todo negativo. É preciso que existam filmes de sucesso comercial... Esses filmes criam mercado de trabalho pra técnicos, atores, prestadores de serviço. Então, não sou muito simpático à idéia de negar o lugar que existe para esses filmes.

O que o Walter Salles, por exemplo, faz, é muito diferente disso. E são filmes que geralmente contam com recursos do exterior e que tentam conciliar mais essa questão do mercado brasileiro e do mercado externo. Já Lula, o Filho do Brasil é um filme, eu diria, sem personalidade nenhuma. Não é nem uma coisa, nem outra. Não é nem um filme que, eu acredito, possa interessar fora do Brasil, nem um filme com características que alguém provindo da televisão talvez fizesse. É um filme meio amorfo, e isso, talvez, explique o fato de não ter tido uma carreira comercial como os produtores esperavam. E dentro desse quadro, a grande questão é a dificuldade que existe para conseguir assegurar um lugar a produções que sejam diferentes dessas que a gente acabou de descrever. Quer dizer, também deveria ser possível no Brasil a existência de mercado e de um sistema de produção para filmes mais ambiciosos, mais interessantes. A gente vê alguns estrangeiros exibidos no Brasil, que vêm de países como a Argentina...

O Irã...
...O Irã, ou filmes feitos por um diretor palestino... E que são exibidos aqui, têm um público restrito, mas são de muito boa qualidade. A gente não tem visto, me parece, no cinema brasileiro, uma produção de boa qualidade, que mesmo não sendo de grande êxito comercial seja de méritos reconhecidos, que tenha possibilidade, por menor que seja, de abrir uma brecha no mercado externo.

O que a gente chamava antigamente de cinema de autor...
Cinema de autor, cinema de arte. Eu acho que o cinema brasileiro vem atravessando uma fase bem difícil, bem cheia de contradições e de problemas.

Citaria alguns desses últimos filmes mais recentes que podem se encaixar nesse conceito de cinema de autor?
Tem alguns bons filmes. Eu tenho atualmente uma página de crítica de cinema na revista Piauí. E tenho comentado, não só, mas principalmente, filmes brasileiros. Um pequeno filme que não fez nenhum sucesso comercial, mas que, também, foi lançado em uma única sala, no Rio de Janeiro, e acho que não foi lançado em nenhum outro lugar, chamado Praça Saens Peña (uma praça aqui na Tijuca, no Rio), dirigido pelo Vinicius Reis, é um bom filme. O filme do Sérgio Bianchi, que vai ser lançado agora, Os Inquilinos, é um bom filme também.

Que conselho você daria aos jovens que fazem e estudam cinema hoje?
(Risos) Eu não gostaria de desanimar ninguém, mas confesso que, de uns anos para cá, tenho atuado muito como professor, dado aulas, especialmente de cinema-documentário, e fico sempre muito assustado, inquieto, com a quantidade de pessoas interessadas em cinema, querendo fazer filmes, e vendo as dificuldades que eles vão enfrentar, entendeu? Então, assim meio brincando, eu costumo dizer que uma das minhas poucas vitórias como pai foi ter conseguido que minhas duas filhas não fizessem cinema. Mas a pessoa tem que seguir a vocação e a convicção. Se for pra fazer filmes, prepare as costas (risos), porque as pancadas são muitas. Mas vão em frente (risos).

Quais seus projetos atuais?
O último filme que dirigi, que foi exibido, é o documentário chamado O Tempo e o Lugar, lançado em 2008, e venho trabalhando há alguns anos numa série de cinco documentários com material de arquivo sobre o Estado Novo, que vou tentar finalizar ainda este ano. E estou iniciando um documentário sobre Paulo Moura. Eu tenho um blog também, se quiser visite meu blog, na revista Piauí. Praticamente são só comentários de filmes que estão em cartaz.

Leia também:

Filmografia:
No site Imdb.com
No site Epipoca
Sobre o filme O Tempo e o Lugar

Sobre cinema neste blog:

Favoritos do cinema (1) - Quando explode a Vingança, de Sergio Leone

Entrevista possível com Paulo César Pereio

Sobre Manhattan de Woody Allen

A vida tormentosa de Polanski

Umas linhas sobre Anselmo Duarte

Atualizado às 21h50